Apenas neste mês, o Brasil já registrou mais de 49 mil focos de fogo; países vizinhos também sofrem com onda de incêndio
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Beatriz Araujo
13 set
2024
– 07h13
(atualizado às 11h41)
Especialista explica como se formam os ‘rios voadores’ que espalham fumaça pelo Brasil:
Ao longo deste mês de setembro foram identificados mais de 49 mil focos ativos de incêndio no Brasil, detectados dia a dia. Isso apenas até esta quinta-feira, dia 12, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Além da destruição, de todo esse fogo resta a fumaça, que tem se dissipado pelos trajetos dos “rios voadores”, corredores atmosféricos de umidade que conectam a América do Sul.
Ao Terra, Marcelo Felix Alonso, doutor em Meteorologia na área de poluição atmosférica e diretor da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), explicou que as queimadas estão lançando para a atmosfera uma grande quantidade de materiais particulados, fuligem, cinzas e gases que são transportados pelo continente sul americano por meio desses corredores de ar, conhecidos como “rios voadores”.
Os corredores de umidade são importantes para a manutenção de todo o ciclo hidrológico da América do Sul. É como se a floresta reciclasse a umidade que recebe do Oceano Atlântico e a distribuísse para outras regiões do continente. Mas nesses mesmos ‘caminhos’, em uma altitude superior à do translado dessa ‘água invisível’, a fumaça também se desloca pelas regiões.
“Nós costumamos dizer que a poluição não respeita fronteiras políticas”, afirma o especialista.
Pelo Brasil, segundo dados do Inpe, dos 49.266 focos registrados, 50,3% foram na Amazônia, 36,6% no Cerrado, 7,8% na Mata Atlântica, 2,8% no Pantanal, 2,4% na Caatinga e 0,1% no Pampa.
Mas, neste momento de crise, os focos de incêndio não são exclusivos do Brasil. A América do Sul, como um todo, está passando por uma onda de incêndios. Somando os 13 territórios do continente já foram mais de 350 mil focos detectados ao longo desse ano. O montante quebra o recorde histórico de 2010, quando foram registrados cerca de 322 mil.
Em relação aos incidêntes deste mês, a Bolívia é a mais afetada após o Brasil –com quase 20 mil focos de incêndio registrados. Além disso, o fogo também tem deixado sua marca no Peru (3.655), Paraguai (3.648) e Argentina (3.562), principalmente.
A fumaça desses pontos também se acumula no corredor de fumaça que afeta o Brasil, apontam os especialistas ouvidos pelo Terra.
Ação do homem
“‘Eu diria que nós estamos em uma situação conjuntural. O início do fogo é devido a atividades humanas, mas há uma grande facilidade de propagação dos focos porque tudo está muito seco”, ponta o doutor em meteorologia Marcelo Seluchi, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do governo federal;
Seluchi explica que, com a crise climática, a estação seca está cada vez mais longa. Já a estação chuvosa, que deve aliviar os focos de incêndio quando chegar, está cada vez mais curta.
“Com a frente fria há um aumento de umidade, cai a temperatura e, eventualmente, pode chover. E os ventos que passam a soprar do oceano acabam ‘limpando’ a atmosfera”, complementa. E, no momento, segundo o meteorologista, há expectativa que até o fim de semana passe uma frente fria pelo Rio Grande do Sul.
Mas ele também ressalta que os ‘corredores de fumaça’ se colocam à frente do avanço da frente fria. Sendo assim, Seluchi projeta que antes do cenário melhorar com possíveis chuvas pode haver uma intensificação da fumaça no Paraná, São Paulo e Minas Gerais, por exemplo.