O estado norte-americano da Califórnia ofereceu um pedido oficial de desculpas por seu papel na escravidão e em políticas discriminatórias contra os negros, mas não tem planos de oferecer reparações aos descendentes dos escravos.
O governador Gavin Newsom transformou uma declaração formal em lei nesta quinta-feira 27 para garantir sua preservação nos arquivos do estado.
Segundo o texto, a Califórnia “assume a responsabilidade por seu papel em promover, facilitar e permitir a instituição da escravidão, assim como seu duradouro legado de discriminação racial”.
“A Califórnia dá agora mais um passo importante no reconhecimento das graves injustiças do passado e na reparação dos danos causados”, acrescenta o documento.
A declaração foi uma das recomendações de um grupo multidisciplinar criado no ano passado no contexto do movimento “Vidas Negras Importam” e das manifestações contra o racismo que abalaram os Estados Unidos após a morte de George Floyd nas mãos de um policial branco em 2020.
Ativistas negros aplaudiram o pedido de desculpas, mas alguns disseram que esperavam que o estado oferecesse também compensações econômicas aos descendentes de escravos.
“As desculpas por si só não são suficientes, devem incluir reparações materiais”, declarou Kamilah Moore, advogada que fez parte do grupo multidisciplinar, na rede social X.
Com as reparações materiais, acrescentou Moore, “um pedido de desculpas pode resultar no reconhecimento e na reparação da comunidade”.
Embora a Califórnia nunca tenha aderido aos estados do sul que permitiram a escravidão, ela permitiu que seus cidadãos trouxessem seus escravos para o estado durante a corrida do ouro e também perseguiu escravos fugitivos.
Após a Guerra Civil de 1861-1865 e a abolição da escravidão em todo o país, a Califórnia proibiu casamentos inter-raciais durante décadas, tolerou filiais locais do racista Ku Klux Klan e implementou políticas que mantinham negros fora de certos bairros.
Devido à enorme quantidade de dinheiro necessária para as reparações, o tema provoca debate.
No ano passado, um grupo multidisciplinar da cidade californiana de São Francisco recomendou o pagamento de indenizações de 5 milhões de dólares (27,2 milhões de reais, na cotação atual) para cada cidadão negro elegível, uma ideia que gerou discussões e que os políticos republicanos consideraram “absurda” e irrealista.
Cerca de uma dúzia de estados americanos já pediram desculpas formalmente por sua participação na escravidão.