Foto: soldado Murilo Damian Medeiros / CBMSC
Na rotina do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC), é comum o atendimento a ocorrências de trânsito. Porém, uma delas marcou para sempre a história da corporação. Há 17 anos, na noite de terça-feira, 9 de outubro de 2007, equipes do CBMSC foram acionadas por volta das 19h, para socorrer vítimas de uma colisão entre uma carreta e um ônibus de turismo na BR-282, em Descanso.
O ônibus retornava de Chapecó com destino a São José do Cedro, quando colidiu de frente com um caminhão e caiu em uma ribanceira com cerca de 20 metros. Dos 42 ocupantes do ônibus, sete vítimas foram a óbito, além dos feridos que aguardavam pelo resgate. O cenário era preocupante e exigiu o deslocamento de um caminhão de combate a incêndio, uma ambulância e uma viatura Auto Comando de Área (ACA). Além do CBMSC, uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), uma viatura da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) e outra da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram acionadas para prestar apoio e auxiliarem no isolamento da área.
Mais tarde, às 21h30, bombeiros e socorristas atuavam no resgate das vítimas, quando uma carreta carregada com fardos de açúcar ultrapassou a sinalização de segurança em alta velocidade. O caminhão atingiu os veículos que estavam em fila, aguardando a liberação da pista, as viaturas, as equipes que prestavam socorro, profissionais da imprensa e demais pessoas que ajudavam no resgate.
O acidente, que já era trágico, ficou ainda pior. O duplo acidente resultou em 27 mortos e mais de 80 feridos. Entre os que perderam a vida, estavam quatro bombeiros militares, um bombeiro comunitário e um policial militar.
No mesmo dia, também faleceram os socorristas Clóvis José Fluck e José Evaldir Ferreira Zuse, do SAMU. José Evaldir já havia servido nas fileiras do CBMSC e incentivou seu irmão, hoje subtenente da reserva remunerada, a ingressar na corporação. A PMSC perdeu o soldado PM Ilvânio Marcos Sehnem, que prontamente auxiliava nos trabalhos de socorro às vítimas.
:: OS TOMBADOS
Cabo BM Leonir Francisco Bagatini
Natural de Palmitos/SC, incluiu no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar em 1985. Atuava como socorrista na guarnição de São Miguel do Oeste, quando acionados para o derradeiro atendimento, vindo a tombar no cumprimento do dever. Foi promovido post mortem em 2008 à graduação de 3º sargento BM.
Cabo BM Roberto Inácio Borgheti
Natural de Romelândia/SC, incluiu no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar em 1986. Atuava como Chefe de Socorro na guarnição de São Miguel do Oeste. Estava de folga no dia do acidente, mas compareceu ao quartel em virtude do acionamento do plano de chamada, deslocando-se imediatamente para auxiliar a guarnição de serviço, trabalhando intensamente até o momento da segunda colisão. Foi promovido post mortem em 2008 à graduação de 3º sargento BM.
Soldado BM Carlos Roberto Françozi
Natural de São Miguel do Oeste/SC, incluiu no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar em 1994. Atuava como condutor de veículo de emergência na guarnição de São Miguel do Oeste. Estava de folga no dia do acidente, mas compareceu ao quartel em virtude do acionamento do plano de chamada, deslocando-se imediatamente para auxiliar a guarnição de serviço, vindo a falecer em virtude do novo impacto no local do acidente. Foi promovido post mortem em 2008 à graduação de cabo BM.
Soldado BM Evandro Daltoé
Natural de São Miguel do Oeste/SC, incluiu no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar em 1995. Atuava como Chefe de Socorro e na Seção de Atividades Técnicas no Pelotão de Bombeiros Militar em Maravilha. Estava de folga no dia do acidente, mas compareceu ao quartel em virtude do acionamento do plano de chamada, deslocando-se imediatamente para auxiliar a guarnição de serviço, sendo vitimado ao honrar seu juramento. Foi promovido post mortem em 2008 à graduação de cabo BM.
Bombeiro Comunitário Elio Moss
Natural de São Miguel do Oeste/SC, aderiu ao Serviço Comunitário em 2002. No dia do fato, encontrava-se no quartel do CBMSC em São Miguel do Oeste para acompanhar a instrução de uma nova turma de Bombeiros Comunitários. Deslocou-se para auxiliar a guarnição quando tomou conhecimento da ocorrência, porém veio a perecer junto com os outros colegas de corporação.
FERIDOS
Os hospitais mais próximos ao local do acidente receberam os feridos do duplo acidente, estando entre eles bombeiros que atuavam na resposta ao primeiro sinistro. Em reconhecimento aos serviços prestados, os militares feridos na ocorrência foram agraciados com a Medalha Risco da Própria Vida.
DANOS
A trágica ocorrência resultou em danos em três viaturas pertencentes à frota do CBMSC, sendo um Auto Socorro de Urgência (ASU), um Auto Comando de Área (ACA) e um Auto Bomba Tanque (ABT).
O LEGADO
Em 9 de outubro de 2018, onze anos após a Tragédia de Descanso, foi inaugurado um monumento situado ao lado da sede do 12º Batalhão de Bombeiros Militar, em São Miguel do Oeste. A composição artística tem a figura de um anjo e a representação dos seis integrantes do Corpo de Bombeiros Militar e da Polícia Militar que perderam a vida, estando em “apresentar arma”.
A eternização do legado dos tombados em serviço, viabilizada pela escultura talvez não seja suficiente para expressar a comoção social provocada pela tragédia. Aquela foi a última ocorrência daqueles que plenamente honraram o juramento, prestando o socorro “mesmo com o risco da própria vida”, deixando uma marca eterna a todos que um dia conheceram estes heróis da vida real.
Texto: Soldado Murilo Damian Medeiros – Edição: Mônica Andrade – CCS/CBMSC