Silveira quer derrubar petista de Itaipu para dar ao PSD

Ônibus híbrido a biodiesel e biometano utilizado no transporte de turistas na Itaipu Binacional, que foi apresentado ao público durante a cerimônia de sanção da lei do Combustível do Futuro, em Brasília

Ênio Verri, ex-deputado federal pelo PT, pode perder lugar na hidrelétrica binacional para nome indicado por partido de Kassab

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, está trabalhando para derrubar o diretor-geral da Itaipu Binacional, Enio Verri, ex-deputado federal pelo PT do Paraná. O desejo do ministro, um dos mais fortes da Esplanada, é emplacar alguém do seu partido, o PSD de Gilberto Kassab, e aumentar sua influência no setor elétrico.

O PSD saiu das eleições de 6 de outubro com quase a metade dos prefeitos do Paraná. A sigla tem influência relevante no Congresso e é vital para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter uma base de apoio mais sólida no Legislativo.

Se o plano for concretizado, será mais uma demonstração de força de Silveira. O ministro protagonizou disputas internas no governo que culminaram na troca dos comandos da Petrobras e da ENBPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional).

Alguns episódios recentes mostram um distanciamento entre Silveira e Verri. Um desses casos foi de 1º a 4 de outubro de 2024, quando o grupo de trabalho sobre transição energética do G20 reuniu ministros do setor dos países do bloco em Foz do Iguaçu (PR), cidade onde está a usina de Itaipu. Ao final do evento, um coquetel foi servido aos convidados. Silveira não quis ficar e foi embora antes. A situação provocou constrangimento para Verri, que precisou explicar a descortesia do ministro de Minas e Energia para os convidados estrangeiros.

Na 3ª feira (8.out.2024), Lula sancionou a Lei do Combustível do Futuro, O evento foi realizado na Base Aérea de Brasília. Apesar de presidir uma das maiores hidrelétricas do planeta, Verri foi deixado de lado pelo cerimonial do Palácio do Planalto.

O diretor-geral de Itaipu não foi chamado para se sentar numa das cadeiras no palco onde estavam Lula, Silveira, ministros, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin. Tampouco foi incluído na lista de autoridades presentes, diversas vezes citadas no início dos discursos do encontro.

Na plateia, Verri assistiu à cerimônia como os demais convidados. Estava acompanhado no evento de Carlos Carboni, diretor de coordenação de Itaipu, e André Pepitone, diretor financeiro executivo da binacional.

Verri conversou com Lula na 4ª feira (9.out). O diálogo foi ameno, mas não o suficiente para tranquilizar o diretor-geral de Itaipu. Verri foi eleito deputado federal em 2022 e, por exigência legal e a pedido de Lula, renunciou ao mandato para assumir o comando da hidrelétrica –onde seu salário mensal é de aproximadamente R$ 80.000, além de bônus e gratificações.

O diretor-geral de Itaipu ficou chateado na 3ª feira (8.out) não só por não ter conseguido falar com Lula imediatamente e por ter ficado fora do palco de autoridades. Ele também se sentiu escanteado porque a hidrelétrica cuidou de trazer para Brasília um ônibus híbrido a biodiesel e biometano utilizado no transporte de turistas. O equipamento foi levado à Base Aérea de Brasília para a cerimônia do combustível do futuro. Quando Lula e ministros foram ver o veículo de perto, Verri não foi chamado.

Procurado pelo Poder360, Verri disse não ter nenhuma informação a respeito” de sua possível saída do cargo. Em público, Silveira nega estar atuando para derrubar o diretor-geral. Após a publicação da reportagem, a assessoria de imprensa do ministro enviou a seguinte nota:

“O Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, esclarece que a nota publicada nesta sexta-feira, 11/10, não representa a realidade e está completamente equivocada, não contribuindo para a verdadeira informação do público, contrariando o jornalismo de responsabilidade que é costume do Poder 360. Além de ter uma relação recíproca de amizade com o diretor-presidente de Itaipu, Ênio Verri, Silveira destaca a excelente relação de trabalho que tem garantido frutos de grande relevância para o setor energético do Brasil, em especial nas áreas de segurança e de transição energética, bem como de aumento da geração de energia limpa e renovável. A gestão de Ênio Verri, à frente de Itaipu, conta com o total e irrestrito apoio do ministro Alexandre. A desinformação publicada aparenta ter origem em fontes que atuam para, por meio de “fogo amigo”, tentar atrapalhar a gestão do ministro, do presidente da binacional e do governo.” 

O Poder360 também entrou em contato com a Secom (Secretaria de Comunicação Social). Não houve resposta até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado caso uma manifestação seja enviada a este jornal digital.

PSD FORTE

O triunfo do PSD nas eleições municipais no Paraná pode agora ajudar na pressão feita por Silveira pela mudança no comando de Itaipu. A sigla do governador Ratinho Jr. elegeu 162 prefeitos no Estado. O PT, de Verri, elegeu apenas 3.

Ratinho Jr. e Verri não têm nenhuma relação de proximidade. A interlocução do governo estadual com a binacional é feita por meio de Pepitone, nome indicado por caciques do PSD.

Caso a estratégia do ministro de Minas e Energia dê certo, um dos cotados para assumir o comando de Itaipu é o próprio Pepitone, que já tem experiência no setor e na empresa.

Uma das maiores dificuldades para Silveira derrubar Verri de Itaipu é a deputada federal, Gleisi Hoffmann, que além de ser presidente nacional do PT é do Estado do Paraná. Dentro do PSD, entretanto, avalia-se que a força de Gleisi tem sido reduzida.

Além do desempenho ruim no Estado, em 2025 o partido terá um novo presidente nacional. Será Edinho Silva, que termina o mandato de prefeito de Araraquara (SP), em 31 de dezembro. A força de Gleisi tende a diminuir nos próximos meses. 

APARÊNCIAS E EVIDÊNCIAS

Durante a cerimônia da Lei do Combustível do Futuro houve um episódio imperceptível para a maioria das pessoas, mas notado por quem acompanha a política de Brasília. Silveira, que pode ser o algoz de Verri, foi o único a citá-lo em seu discurso, ainda que de maneira informal. O ex-deputado foi ignorado por todos, menos por aquele que trabalha por sua queda.

O ministro de Minas e Energia tem se revelado um dos mais hábeis politicamente entre os 38 que têm assento na Esplanada. Criou uma relação de proximidade e confiança não apenas com Lula, mas sobretudo com a primeira-dama, a socióloga Janja Lula da Silva, que no passado trabalhou em Itaipu e ainda tem influência na binacional.

Talvez por saber que sua operação para tirar Verri de Itaipu precisa ser velada e sem causar estranhamento no PT, Silveira fez estas duas citações ao diretor-geral, a quem chamou de “companheiro”, mas que estava assistindo tudo da plateia, sem direito a ir ao palco:

  • investimentos privados na produção de biocombustíveis – Hoje na área de pesquisa a Shell, a Raízen e o Senai vão montar um centro de pesquisa de bioenergia em Piracicaba no interior de São Paulo. Com investimento da Virtus, a Edge e a Enerva teremos um corredor verde de transporte de carga entre o Porto de Santos até o Porto de São Luís, no Maranhão. Agora quero falar da criação de uma nova indústria verde no Brasil. Ele é capaz de substituir 100% do diesel em um motor de caminhão, de ônibus, de trator. Isso, companheiro Enio, é sustentabilidade.
  • reunião do grupo de trabalho do G20 em Foz do Iguaçu – “Vimos nossa presidência no G20 ser recebida com respeito e admiração. Por isso, o Brasil assume a liderança da transição energética global, o Enio estava presente, estabelecida com bases justas e inclusivas, sem deixar ninguém para trás”.

Fonte: Poder 360

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