Acordos firmados são para projetos de desenvolvimento e exploração de terras raras; empresas poderão usar laboratório mineiro
A Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) concluiu sua excursão para a Austrália com acordos firmados com mineradoras do país na casa dos R$ 2,5 bilhões. A entidade assinou um memorando de entendimento com a St. George Mining Limited para um aporte de R$ 2 bilhões no Projeto Araxá, voltado para a extração de nióbio e terras raras na região do Alto Paranaíba.
O 2º acordo foi firmado com a Perpetual Resources e envolve um investimento de R$ 400 milhões para 3 projetos de exploração de terras raras, lítio e estanho no Sul de Minas e no Vale do Jequitinhonha. Além dos memorandos assinados, a Fiemg também fechou uma parceria com 3 outras mineradoras australianas para compartilhar o laboratório brasileiro de produção de ímãs de terras raras. A instalação é a única existente no Hemisfério Sul.
Ao Poder360, o presidente da Fiemg, Flavio Roscoe, celebrou os acordos de investimentos que trarão recursos para o setor mineral de Minas Gerais, mas salientou que uma das principais conquistas da excursão foram os contratos para compartilhamento do laboratório com as mineradoras estrangeiras.
Segundo o executivo, a apresentação da instalação às empresas estrangeiras e as trocas de conhecimento podem impulsionar o Brasil como um futuro exportador de imãs de terras raras, um dos produtos mais valiosos no mundo por causa de sua aplicação em equipamentos eletrônicos.
Terras raras são minérios de difícil extração que possuem características peculiares, como magnetismo intenso e absorção e emissão de luz. Essas propriedades especiais fazem com os minérios sejam usados em diversas aplicações tecnológicas, como torres eólicas, painéis solares, motores de carros elétricos, aviões e equipamentos militares. A partir do minério, é possível criar um ímã que tem propriedades essenciais para o setor elétrico e eletrônico.
Por si só os metais raros já são valiosos e o Brasil alia a tecnologia do laboratório ao acesso aos minérios, mas os imãs ganharão ainda mais valor a partir do ano que vem. Em 2025, a China vai parar de exportar os imãs feitos a partir dos metais raros e só vai exportar os produtos prontos. A decisão criou um caos global, pois o país asiático é responsável por mais de 90% da produção dos ímãs.
É nesse cenário que Roscoe enxerga uma oportunidade para o Brasil atrair investimentos para o setor mineral. O presidente da Fiemg declarou que os países começaram a buscar alternativas aos ímãs chineses e que o Brasil tem as qualidades necessárias para se consolidar como um exportador e atender parte de demanda global. No entanto, para isso o país precisaria “fazer o dever de casa” e um dos exemplos citados por Roscoe é desburocratizar as licenças ambientais.
“O Brasil encontrou grandes reservas de terras raras. Temos uma janela de oportunidade e é aquela velha discussão se o Brasil vai querer agarrar essa janela ou não. Se o meio ambiente não vai atrasar tudo porque são projetos de baixíssimo impacto ambiental, mas no Brasil as coisas são complexas. Temos a oportunidade de fornecer o produto mais desejado do mundo”, disse Roscoe.
INTERESSE NO LÍTIO
Roscoe disse que as mineradoras australianas ficaram muito interessadas no modelo brasileiro de extração do lítio, minério essencial para produção de baterias. O executivo disse que as empresas estrangeiras ficaram impressionadas com a sustentabilidade do processo brasileiros e enxergam possibilidade no Brasil para escalar a produção.
As conversas sobre a exploração do lítio brasileiro se concentraram na exportação do produto para o mercado externo. Roscoe declarou que essa é a vocação do país no momento, mas que existe um horizonte, ainda distante, para instalação de uma fábrica de baterias no Brasil para agregar valor à cadeia mineral do lítio.
Segundo Roscoe, a condicionante para isso é o Brasil atrair um volume considerável de fábricas de produção de carros elétricos.
“A bateria, ela só pode se tornar realidade no Brasil quando nós tivermos quando nós tivermos uma produção significativa no país, pois é muito difícil você ter uma bateria fabricada no Brasil e sendo exportada para outro país”, disse Roscoe. “O lítio in natura não tem risco nenhum enquanto a bateria já tem riscos no seu manuseio. Há sim esse vislumbre [de fábricas de baterias] mas ele não é no curto prazo”.