Avanços ou retrocessos? Como a vitória de Trump pode impactar o meio ambiente

Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos nas eleições de 2024. (5/11/2024)

Resumo
A eleição de Donald Trump como presidente dos EUA causou preocupações para ativistas e cientistas do meio ambiente devido à postura negacionista do republicano em relação à agenda climática global.




Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos nas eleições de 2024. (5/11/2024)

Foto: REUTERS/Brian Snyder/File Photo

A eleição de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos desencadeou preocupação para ativistas do meio ambiente e para a comunidade científica. Ao que se refere às políticas climáticas globais, o republicano já declarou abertamente ser contra a agenda e até prometeu tirar o país do Acordo de Paris.

Além de ter o maior histórico de emissão de gases de efeito estufa, o país, atualmente, ocupa o segundo lugar no mundo das emissões. É também a nação que mais explora óleo e gás no planeta, um problema que causa preocupação pela elevada queima de combustíveis fósseis.

O secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, alerta que, para a agenda ambiental, a vitória de Trump representa uma ameaça comparável a um “evento climático extremo”. Em entrevista ao Terra, Astrini expôs como essa mudança política pode impactar negativamente o combate à crise climática, não só em solo americano, mas em todo o mundo.

“Não é apenas o fato de que ele vai tirar os Estados Unidos de qualquer hipótese de solução. Não é apenas isso – isso ele vai fazer com certeza –, é que ele vai ajudar a aumentar o problema de forma concreta, aumentando as emissões americanas e também de forma política, dificultando os acordos, alimentando o negacionismo, então realmente é uma pessoa que joga do lado da destruição”, avalia.



Ativistas do clima projetam mensagem que diz

Ativistas do clima projetam mensagem que diz “A crise climática não vai parar para um negacionista”, na Tower Bridge, em Londres, com a silhueta de Donald Trump, frente à COP29 (7/11/2024)

Foto: REUTERS/Chris J. Ratcliffe

O Acordo de Paris, firmado em 2015, foi um marco na cooperação global para limitar o aquecimento global, com os Estados Unidos ocupando um papel central nas negociações graças ao governo de Barack Obama.

Durante sua primeira gestão, Trump não só retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, como também enfraqueceu regulamentações ambientais e minimizou as evidências científicas das mudanças climáticas. “Ele classifica as mudanças climáticas como a maior enganação já realizada no planeta. E vai continuar dizendo isso, disse quando era presidente, disse quando não era, falou de novo na campanha, então ele está pronto para atrapalhar”, explica Astrini, referindo-se à postura negacionista que Trump promete manter.

Com os Estados Unidos fora da liderança climática, muitos países se sentem desestimulados a adotar políticas rigorosas de redução de emissões. Além disso, Astrini acredita que a nova administração pode usar sua influência para financiar grupos que promovem o negacionismo climático, o que torna ainda mais difícil o avanço nas negociações internacionais.

EUA têm papel central na agenda climática global

Como um dos maiores emissores históricos de gases de efeito estufa e o maior explorador de óleo e gás do mundo, a posição dos EUA influencia diretamente a resposta global à crise ambiental. A ausência do país não só dificulta o cumprimento das metas, como enfraquece o financiamento para projetos climáticos em nações em desenvolvimento, segundo o especialista.

Entre as promessas de campanha de Trump, estava a de deixar de financiar órgãos americanos de cooperação internacional, inclusive aqueles que doam para o Fundo Amazônia. 

“Os Estados Unidos começaram a doar para o Fundo Amazônia faz pouquíssimo tempo. Doaram já U$ 50 milhões (cerca de R$ 284,6 mi), de uma promessa de U$ 500 milhões (R$ 2,8 bi). Provavelmente, eles vão parar esse fluxo de doações. Então o prejuízo também é moral para essas negociações”, lamenta Astrini, enfatizando que essa perda impacta diretamente a preservação da floresta e as ações climáticas na América Latina.

A “Trumpização” do Congresso Brasileiro

No âmbito nacional, Astrini traçou paralelos com o cenário brasileiro de enfrentamento da crise climática. Ele apontou que, apesar das melhorias sob a gestão atual, o Congresso brasileiro permanece hostil à pauta ambiental.

“Nós não temos um país mobilizado no meio ambiente. A gente tem alguns setores de alguns poderes. Mas melhorou muito do que era, com certeza”, diz. Mesmo com avanços, como a recente redução do desmatamento, Astrini alerta que, sem um Congresso comprometido, o Brasil terá dificuldades para implementar uma agenda climática abrangente.

Segundo dados divulgados pelo Observatório do Clima nesta quarta-feira, 6, houve redução de 45% da taxa de desmatamento da Amazônia em 2023, e no Cerrado o problema também diminuiu. As emissões de gases poluentes também foram reduzidas em 12% em 2023, comparado a 2022. É a maior queda percentual nas emissões desde 2009, quando o país registrou a menor emissão da série histórica iniciada em 1990.

Persistência na ciência

Para Astrini, governantes como Trump negligenciam totalmente a agenda climática, assim como também se declaram inimigos da ciência. “Para que um país se mobilize, um governo se mobilize, ele precisa acreditar no que a ciência está dizendo. E são governos, no caso do Bolsonaro e Trump, totalmente anticientíficos”.

“Então, se você não aceita a doença, você não vai conseguir tomar nenhuma atitude para cura”. Astrini e outros especialistas concordam que a mensagem é clara: é preciso fortalecer a cooperação global para que o negacionismo climático não se torne o novo padrão global.

Fonte: Terra

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