Boulos processa o presidente do BC, mas intervenção no câmbio deve ser proposta pela Diretoria de Política Monetária
O PT e aliados do governo criticam o presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, pela não intervenção no mercado de câmbio, mas a decisão depende do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A autoridade monetária pode vender recursos da reserva internacional para segurar a cotação do dólar, mas, para isso, é necessário um estudo técnico que identifique que o mercado de câmbio está disfuncional.
Galípolo foi o secretário-executivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Já disse ser amigo pessoal do ministro de Lula. Campos Neto, por sua vez, é visto por aliados do presidente como adversário político.
As regras definidas pelo governo para o BC agir não estabelecem uma meta de dólar ou limite para a desvalorização do real. O câmbio é “flutuante”, regime defendido por Galípolo e Campos Neto.
O deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) processou Campos Neto por negligência do BC no combate ao dólar alto. Defende que há um conflito de interesse na condução dos trabalhos do presidente do BC.
“Quem tem instrumentos cambiais para atuar sobre a alta do dólar é, também, o Roberto Campos Neto, presidente do BC. Agora, o que acontece se o presidente do Banco Central tem ganhos pessoais quando o dólar sobe e quando o juro cresce? O nome disso é conflito de interesse”, disse Boulos em vídeo publicado nas redes sociais.
O deputado afirmou também ter pesquisado o patrimônio de Campos Neto e concluído que parte dos investimentos estão atrelados à taxa básica, a Selic. Outra parte está indexado ao dólar. Disse que o presidente do BC mantém os juros e o dólar altos para conseguir mais ganho com as aplicações financeiras.
“Quando o dólar sobe, o patrimônio do Roberto Campos Neto também aumenta. Isso sem falar no conflito de interesses político, que é mais óbvio. Além de ter sido indicado por Bolsonaro, ele tem relações orgânicas, estreitas com o bolsonarismo”, declarou Boulos.
Outros aliados do presidente Lula criticaram o BC pela não intervenção no mercado de câmbio. Comparam com o governo Jair Bolsonaro (PL), quando a autoridade monetária fez mais atuações em função da pandemia de covid-19.
DÓLAR ALTO
O Banco Central define intervenções no mercado cambial quando há um estudo técnico e um pedido formal de atuação da Diretoria de Política Monetária, que é comandada por Galípolo.
O diretor disse, quando o dólar ultrapassou a marca de R$ 6,00, que tratou do uma eventual intervenção com Campos Neto em 29 de novembro, mas que a autoridade monetária só irá atuar no mercado cambial quando for identificada disfuncionalidade.
A cotação do dólar é o resultado da oferta e demanda da moeda estrangeira no mercado. O valor reflete diversas perspectivas macroeconômicas, por exemplo, o crescimento econômico, as expectativas de inflação e juros e outras influências políticas e econômicas.
O dólar comercial fechou a R$ 6,07 na 6ª feira (6.dez.2024). O Brasil tem uma política de câmbio flutuante, portanto não há uma meta de valor ou limite para desvalorização do real.
Galípolo já defendeu que o câmbio flutuante é importante para “absorver choques”. O CMN (Conselho Monetário Nacional) é responsável por definir o regime cambial do Brasil. Estabelece as diretrizes e como o BC deve atuar para a normalidade do mercado. O CMN é formado por:
- Roberto Campos Neto, presidente do BC;
- Fernando Haddad, ministro da Fazenda;
- Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento.
O conselho regulamenta o mercado de câmbio e cabe ao BC monitorar e garantir o funcionamento regular do mercado e o cumprimento da regulamentação. O último anúncio de intervenção do BC foi em novembro de 2024, quando a autoridade monetária ofertou US$ 4 bilhões das reservas internacionais no mercado à vista. O BC também atuou em:
O Brasil tinha, em outubro deste ano, US$ 366 bilhões em reservas cambiais. Eram US$ 355 bilhões em dezembro de 2023 e US$ 324,7 bilhões antes do governo Lula.