Quem já assistiu aos filmes ou leu os livros de Harry Potter com certeza se lembra do jornal “O Profeta Diário”, com fotos que se mexiam e a interatividade mágica da leitura. Como os jovens consumirão notícia no futuro? A resposta mais óbvia a essa interrogativa é: jamais como no passado! Mas refletir o contexto atual, sem dúvidas, é necessário. Imagine duas cenas icônicas do cotidiano:
– O pai lê o jornal em papel; já o filho consome a mesma publicação no sofá, mas no tablet – formas diferentes de acessar o mesmo conteúdo. O recado é objetivo: as novas gerações quase não leem jornais (em papel), e por vários motivos. Seja por razões econômicas (papel é caro), ecológicas (papel é feito de árvores) ou práticas (papel é pesado), a tendência é que as impressões cessem em um futuro não muito distante.
A tiragem mundial despenca e, cada vez mais, as edições em papel migram para o ambiente eletrônico. Embora esta profecia já tenha sido varrida para debaixo do tapete algumas vezes, em algum momento ela vai se concretizar. Se não pelos motivos acima descritos, será pela falta de interatividade que um jornal pode ter com o seu “leitor”.
Ao contrário daquela enorme mancha cinzenta – com uma foto ou ilustração -, as novas formas de se consumir a informação agora são totalmente interativas (que reagem aos seus gestos e comandos de voz), com muitas fotos (podem ser vídeos também). Além da “notícia”, ainda será possível ler espicaçadas referências sobre um determinado tema, ou mesmo o apontamento instantâneo de palavras e traduções. Agora a “notícia” não termina ao fim da edição diária, mas é contínua. Ao invés da assinatura de uma publicação – o conceito caminha na direção de um Netflix editorial. Esse modelo já é quase realidade.
Mas o que fica cada vez mais claro – como o sol do meio-dia – é que os jovens consomem mais informação em smartphones, onde algoritmos e inteligência artificial selecionam conteúdo “mais adequado”. As novas gerações também não estão dispostas a pagar para ter acesso a conteúdo informativo, abandonando sites de veículos “tradicionais” e optando por outras formas de navegação, como redes sociais ou aplicativos de troca de mensagem.
E o problema está justamente nesta ardilosa armadilha, que tempera uma saborosa sopa de letras (e emojis) que os faz confundir publieditorial, fake news e conjecturas com fatos embasados (ou notícias, como preferem alguns). E os ‘influencers’ passam a moldar um novo estilo de consumo. O famoso “quem” (indica) se contrapõe a uma leitura qualificada.
Essa fórmula também foi amplamente usada por políticos e governos populistas como Trump, Erdogan e Bolsonaro para ficar em evidência na internet, criando polêmicas que se transformaram em verdadeiros nevoeiros para a informação. Constroem-se verdades paralelas e, a mídia tradicional, passa ser o algoz da sociedade moderna. O novo fast-food de heróis (populistas) e vilões (jornalistas).
A guerra dos algoritmos hoje se transformara em axioma de engenharia, ao invés de se resgatar a essência do bom e velho jornalismo. É a ditadura dos ‘likes’, que se mistura de forma inebriante pela conquista de seguidores. O vale-tudo abarca desde bots até perfis falsos em redes sociais. E esse é o desafio do futuro: se livrar da dependência de likes e do feedback dos seguidores.
Não há dúvidas de que o avanço tecnológico impacta em novas formas de interatividade com o noticiário, mas, quando acaba a energia ou a bateria, o velho papel entra em campo. Algoritmos não enganam jornais impressos, que a cada dia estão mais analíticos. Eles ficam por aqui mais um tempo.
O binômio direito-dever de informar, quanto à imprensa do futuro, transcorre em ensinar as novas gerações o que compartilhar no WhatsApp, uma vez que uma eleição (ou decisão) protagonizada por aplicativos deixa mais que uma trinca – se torna um desastre de longo prazo. Mais sal na sopa, menos algoritmos; e um futuro previsível?… esse ainda nem com bola de cristal (…)
Por
Gustavo Girotto
Tercio David Braga