Ibovespa subiu na 6ª feira (23.ago), aos 135.608 pontos; expectativa de juros menores nos EUA contribui para a alta
Agentes do mercado financeiro estão otimistas com o Ibovespa, o principal índice da B3 (Bolsa de Valores de São Paulo). Consideram que fechará o ano próximo dos 150 mil pontos até dezembro. Na 6ª feira (23.ago.2024), fechou aos 135.608 pontos. Subiu 0,32% no último pregão e 1,24% na semana.
A alta foi puxada por declarações do presidente do Fed (Federal Reserve, o Banco Central norte-americano), Jerome Powell. Segundo ele, “está na hora” de ajustar a política monetária do país. A queda dos juros nos Estados Unidos aumenta a procura de investidores a ativos de maior risco e potencializam as principais Bolsas de Valores mundiais.
Os principais índices globais registraram alta na 6ª feira (23.ago) e na semana. Leia no infográfico abaixo:
BOLSA “MUITO BARATA”
Eduardo Plastino, analista de renda variável da Alta Vista Research, afirmou que, mesmo com os recordes, o Ibovespa pode atingir 150 mil pontos em 2024. A Petrobras e Vale têm performance fraca com as commodities em forte queda.
“O Ibovespa pode atingir 150 mil pontos este ano com uma eventual retomada das commodities e expansão de múltiplos das empresas cíclicas, desde que o cenário não seja comprometido por uma deterioração macroeconômica repentina”, disse.
Gabriel Mollo, analista do Banco Daycoval, afirmou que a Bolsa de Valores de São Paulo está “muito barata”, quando as ações têm valores considerados atrativos. Para o analista, as empresas tiveram lucros positivos no 2º trimestre e o P/L (índice preço/lucro) está abaixo da média histórica.
“A Bolsa está em níveis que a gente não estava há muito tempo. Quando os juros começam a cair e o custo de capital começam a diminuir, as empresas entram lucros maiores. A Bolsa de Valores vai subir e vai bater recordes”, disse o analista.
Os investidores estrangeiros colocaram R$ 7 bilhões na B3 no acumulado de agosto até 4ª feira (21.ago), o último dado disponível. No ano, o saldo está negativo em R$ 29,5 bilhões.
MOTIVOS PARA O OTIMISMO
Mollo disse que há fatores externos e internos para o otimismo no Ibovespa. Ele afirmou que, além da expectativa de queda dos juros nos EUA, o Brasil também fez o “dever de casa”.
Segundo ele, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reduziu as críticas ao BC (Banco Central), o que diminuiu as incertezas na política monetária. O analista também avaliou que a autoridade monetária mitigou ruídos da votação polarizada de maio.
No cenário internacional, Mollo declarou que há espaço para um corte de 0,5 ponto percentual nos juros dos Estados Unidos, que estão no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano desde julho de 2023.
“Hoje, há 70% de chances num corte de 0,25 ponto percentual, mas óbvio que isso pode mudar. Jerome Powell, depois que ele fez o discurso, ficou muito claro que eles vão fazer um ajuste [nos juros] e que o ritmo ou o tamanho vai variar de acordo com os indicadores econômicos”, disse.
Um deles é o Payroll, que mostra dados do mercado de trabalho do país. Para o analista, se houver um resultado fora do esperado, é possível um corte maior dos juros.
Plastino disse que o mercado está dividido na magnitude do corte dos juros nos EUA. Deve ser de 0,25 ponto percentual ou 0,50 ponto percentual.
Para ele, o desafio do Federal Reserve é “equilibrar” as emoções dos agentes do mercado. Afirmou que o mercado de trabalho “vêm mostrando sinais baixistas e comportados, o que dá tranquilidade para que o Fed inicie o movimento”.
“Por outro lado, caso o Fed inicie o ciclo de cortes com apenas 25 bps [pontos base] e os próximos dados, especialmente o próximo Payroll, vierem exageradamente fracos, o mercado pode voltar a ficar preocupado com uma desaceleração mais forte da economia e até começar a precificar uma probabilidade maior de recessão num horizonte próximo”, afirmou.
POLÍTICA MONETÁRIA DO BRASIL
Mollo disse que uma eventual alta da taxa básica, a Selic, tem influência nos ativos, mas será pequena. “Quase zero”, disse o analista do Banco Daycoval. “Teríamos altas marginais [no juro base] para adequar à inflação”, disse.
Ele avaliou que a situação fiscal do país é o “calcanhar de Aquiles” do Brasil e que é um tema de atenção. O analista disse ainda que as indicações dos próximos diretores do Banco Central estão no radar. Afirmou que os agentes financeiros terão reação melhor com nomes com reconhecimento técnico.
Plastino afirmou ainda que o cenário doméstico melhorou nas últimas semanas, com empresas reportando resultados financeiros mais positivos.
“Outro fator que intensificou o bom humor com as ações brasileiras foi o tom mais duro do Banco Central com relação à inflação, que vem dando sinais altistas. As declarações, especialmente de Roberto Campos Neto [presidente] e de Gabriel Galípolo [diretor de Política Monetária], foram muito claras em passar a mensagem de que o BC não hesitará em subir juros caso julgue necessário”, disse.
Para o analista, apesar de a alta dos juros no Brasil ser negativa para a atividade econômica, contribui para uma diminuição dos juros futuros de médio e longo prazo.