Lula quer trocar avião presidencial por outro maior e com mais alcance de voo depois de incidente no México
A pane no avião presidencial que transportava a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da Cidade do México para Brasília em 1º de outubro fez com que o petista decidisse comprar novos aviões para a Presidência da República.
Outro ponto crucial é a autonomia do avião. Lula quer um modelo que consiga voar mais sem fazer tantas escalas, mas o “Aerolula” tem desempenho similar ao de outros aviões de líderes do G20 (entenda mais abaixo).
Em 2023, Lula já havia manifestado o desejo de ter um avião maior e com capacidade de realizar voos mais longos. No entanto, como mostrou o Poder360, a ideia foi suspensa depois que o Planalto avaliou que não era o momento ideal para a compra, para não comprometer o equilíbrio das contas públicas.
Na época, o Planalto cogitou adaptar um avião comprado em 2022 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a FAB (Força Aérea Brasileira). Contudo, o governo descartou a ideia, devido aos custos de instalação de internet e outros equipamentos.
Em entrevista à rádio O Povo/CBN em Fortaleza na última 6ª feira (11.out.2024), Lula confirmou que comprará novos aviões. A ideia é que, além dele, ministros também possam usá-los em viagens.
Segundo o petista, a nova compra não é privilégio seu, mas segurança para integrantes do governo. No entanto, o Congresso precisa aprovar a aquisição, o que torna o processo mais complicado, já que envolve altos custos.
Histórico de aviões
A Presidência da República tem um Airbus A319 CJ VC-1A, um avião de médio porte conhecido como “Aerolula”. Foi comprado em 2004 por US$ 56,7 milhões (US$ 91,7 milhões, em valores atualizados, o equivalente a R$ 500 milhões) e começou a operar em 2005. É o 6º avião oficial para o chefe de Estado brasileiro desde o governo de Getúlio Vargas (1882-1954).
AVIÕES DO G20
Desde o início de seu 3º mandato, o presidente já fez 23 viagens internacionais. Para o governo, um avião com maior autonomia economizaria tempo no deslocamento, já que precisaria fazer menos escalas. As paradas costumam ser mais demoradas do que em voos comerciais, em razão do abastecimento de combustível e da checagem de segurança.
O “Aerolula” é capaz de voar até 11.000 km, de acordo com informações do fabricante. Dentre os aviões presidenciais de países do G20, fica em 9º lugar, mas dentro da média, de 11.641 km.
Já no G7 (grupo das 7 economias mais industrializadas do mundo), a média dos aviões é de 14.023 km. O modelo com maior alcance de voo é a do chanceler alemão Olaf Scholz (Partido Social-Democrata da Alemanha, centro-esquerda). O Airbus 350-900 pode voar por até 15.372 km.
O avião com distância mais limitada é a da Presidência da Turquia. O Airbus A318-112 de Recep Tayyip Erdogan (Partido Justiça e Desenvolvimento, direita) só pode voar por 5.741 km. O modelo usado pelo presidente turco também é o menor dentre os principais líderes mundiais, com 33,1 metros. O “Aerolula” é o 3º menor, com 33,8 metros.
Lula já pediu ao ministro da Defesa, José Múcio, para avaliar propostas de aviões. O modelo da FAB cogitado anteriormente para substituir o “Aerolula” era o Airbus A330-200. Ele também é usado pelo primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau (Partido Liberal do Canadá, centro-esquerda), e pelo presidente da França, Emmanuel Macron (Renascimento, centro). Tem um alcance de 15.094 km, atrás somente do de Olaf Scholz.
O avião presidencial mais famoso é o Air Force One de Joe Biden (democrata). O Boeing 747-800 é conhecido por ser uma “Casa Branca flutuante”, em razão da estrutura para despachos e reuniões presidenciais. É capaz até de receber abastecimento no ar, segundo o governo norte-americano.
O modelo usado pela Presidência dos Estados Unidos é a mais antiga do grupo. Foi comprada em 1990 e será substituída em 2027 por um mais atualizado da mesma família: o Boeing 747-8i. É o mesmo utilizado pelo presidente sul-coreano Yoon Suk-yeol (Partido do Poder Popular, conservador) e o maior dentre os aviões de chefes de Estado das 20 maiores economias do mundo.
As informações de alcance, contudo, podem ter pequenas distorções. Isso porque, em posse da Força Aérea de cada país, as aeronaves sofrem alterações, seja por segurança, para melhorar sua performance ou para atender a finalidades governamentais ou diplomáticas dos chefes de Estado.
As informações depois de feitas essas mudanças, na maioria dos casos, são restritas aos governos nacionais. Por isso, esta reportagem utilizou os dados divulgados pelos fabricantes Airbus, Boeing e Ilyushin (Rússia).
PRESIDENTES SEM AVIÃO
Dentre as 20 maiores economias do mundo, o México é o único que não tem um avião presidencial. Em 2023, o então chefe do Executivo, Andrés Manuel López Obrador (Morena, esquerda), vendeu o Boeing 787 Dreamliner da Presidência do país, em nome de uma política de austeridade fiscal. Desde então, as autoridades usam somente voos comerciais.
O “José María Morelos y Pavón”, como era conhecido o avião presidencial mexicano, em homenagem a um dos líderes da luta pela independência do país, era famoso pela sua luxuosidade.
Antes de se tornar chefe do Executivo, López Obrador afirmava que os presidentes aos quais se opunha tinham um avião mais luxuoso que o dos ex-presidentes norte-americanos Barack Obama (democrata) e Donald Trump (republicano).
No início de seu governo, o presidente argentino, Javier Milei (La Libertad Avanza, direita), e sua comitiva também usavam somente voos comerciais. A atitude foi uma promessa de campanha para reduzir os gastos públicos e a inflação do país. Ele queria, inclusive, vender o atual ARG-01, um Boeing 757-256 comprado pelo ex-presidente Alberto Fernández (Partido Justicialista, esquerda).
O chefe do Executivo, no entanto, abandonou a promessa por motivos de segurança. Em abril, o porta-voz do governo, Manuel Ardoni, anunciou que Milei voltaria a usar o avião presidencial, depois que um homem tentou invadir a Casa Rosada com um facão para matá-lo. A recomendação foi do Ministério da Segurança da Argentina.
O ARG-01 é um dos aviões mais recentes adquiridos pela Força Aérea de um dos países do G20. Contudo, sua fabricação é datada de 2000. Antes de o governo argentino comprá-lo, pertencia ao C&L Aviation Group, dos EUA.
Ele não é o único avião presidencial adquirido já em uso de uma empresa privada ou de outro governo. O A330-200 de Justin Trudeau já tinha 8 anos de fabricação quando foi comprado da Qatar Airways, assim como o Boeing 747-400 do rei saudita Salman bin Abdulaziz Al Saud, fabricado em 1992 e comprado em 2005 da Air China. Já o A318-112 de Erdogan foi comprado em 2018 do governo da Jordânia.