Presidente diz que não opinará sobre indicação de Lira para sucessão na Câmara; líder do União Brasil integra grupo rival de Rui Costa
A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não opinar na eleição para a presidência da Câmara deve ajudar a preservar a influência do PT na Bahia, onde o partido mantém certa dominância.
O gesto de Lula abriu caminho para o atual presidente da Casa Baixa, Arthur Lira (PP-AL), indicar o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA). O líder do União Brasil é do grupo político rival de Rui Costa, ministro da Casa Civil, de forma que a sinalização do Planalto busca frear uma ofensiva futura do próximo presidente da Câmara, especialmente no reduto eleitoral petista.
As eleições municipais na Bahia de 2024 são importantes para o PT sentir o termômetro do apoio à legenda no Estado, de olho em 2026.
De 2002 a 2018, o PT venceu 4 eleições estaduais em 1º turno. Duas vezes com Jaques Wagner e outras duas com Rui Costa. Já em 2022, a vitória de Jerônimo Rodrigues veio no 2º turno, com 52,79% dos votos válidos.
O Poder360 apurou que alguns prefeitos estão insatisfeitos com o atual governo petista, tanto por não terem as demandas ouvidas no ano passado quanto pela perspectiva de repasse menor de emendas.
Diante deste cenário, o ex-ministro José Dirceu tem ido à Bahia para articular o fortalecimento do partido nas eleições municipais deste ano. A hegemonia da sigla em cidades menores segue sólida, mas a expectativa dos dirigentes é de que o partido não ceda espaço ao União Brasil, que pretende ganhar de 70% a 80% dos municípios com mais de 100 mil habitantes.
Portanto, o “aval” de Lula a Elmar ao dizer publicamente aos líderes partidários que não vetaria o nome do favorito de Lira para a sucessão na Câmara, em reunião no Palácio do Planalto na 2ª feira (26.ago.2024), pode ajudar a “pacificar” a situação do PT na região.
A tentativa de “pacificação” entre os 2 principais núcleos políticos baianos teve confirmação na festa de Elmar Nascimento, em 10 de julho.
Na ocasião, Rui Costa compareceu ao evento do adversário, que já estava em plena campanha nos bastidores para ser o próximo presidente da Câmara. A aparição é relevante especialmente pois, 1 dia antes, o ministro da Casa Civil não foi à festa organizada por Antonio Brito (PSD-BA), também baiano e principal adversário do líder do União Brasil na sucessão de Lira.
A aproximação com Elmar, portanto, é estratégica para o governo.
Por um lado, Lula entende que não se meter na eleição para a presidência da Câmara em 2025 não abre margem para que seja cometido o mesmo erro de Dilma Rousseff 10 anos atrás, quando apoiou o petista Arlindo Chinaglia (SP), derrotado por Eduardo Cunha em 2015 que, 1 ano depois, abriu o processo de impeachment contra a então presidente.
Por outro lado, o núcleo político de Rui Costa abre espaço para o diálogo com o União Brasil, ganhando mais tempo para garantir a manutenção da influência petista no Estado.
De certa forma, a estratégia se assemelha à utilizada para manter Lira como um “aliado de conveniência do Planalto”, o que resultou no andamento das pautas econômicas do governo, mesmo o deputado alagoano sendo adversário do senador Renan Calheiros, aliado de Lula, e tendo declarado apoio à reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).