Legalização das apostas esportivas pela internet afetou de forma mais intensa homens jovens mais pobres
A legalização das bets nos Estados Unidos, resultado de uma decisão da Suprema Corte em 2018, teve impacto negativo na saúde financeira dos consumidores nos anos que se seguiram.
É que sugere um estudo recente, produzido pela UCLA (Universidade da Califórnia) com a USC (Universidade do Sul da Califórnia) e publicado em julho de 2024. Eis a íntegra (PDF – 509 kB, em inglês). Os autores são Brett Hollenbeck, Poet Larsen e Davide Proserpio.
Nos EUA, foram legalizados também os jogos presenciais, nos bingos e cassinos. Em 9 Estados foram autorizadas somente os jogos presenciais e em 24 nessa modalidade e também on-line.
O estudo afirma que, nos EUA, homens jovens de bairros mais pobres tiveram maior propensão a ter a vida financeira afetada por causa das bets.
“No geral, descobrimos que a legalização dos jogos esportivos diminuiu a saúde financeira do consumidor. Estes resultados parecem ser particularmente presentes nos Estados que legalizaram as apostas on-line, sugerindo que a facilidade de acesso ao jogo aumenta os problemas a ele associados. Além disso, constatamos que os homens jovens, especialmente aqueles que vivem em regiões de baixa renda, são os mais afetados”, diz.
O levantamento analisou 33 dos 50 Estados norte-americanos a partir da regulamentação dos jogos e usou dados de crédito de cerca de 7 milhões de adultos nessas localidades.
“Encontramos um aumento substancial nas taxas de falência, cobrança de dívidas, empréstimos para consolidação de dívidas e inadimplência em empréstimos para aquisição de automóveis. Concluímos também que as instituições financeiras respondem ao risco dos consumidores restringindo o acesso ao crédito”, afirma trecho do estudo.
Eis alguns dos dados que o estudo apresenta como sendo resultado da legalização das bets:
- falência (quando o consumidor fica completamente endividado e inadimplente) – aumento de 28% nas chances de acontecer;
- dívidas – aumento de 8% nos valores de cobrança;
- formato – 91% de todas as apostas são feitas on-line;
- crédito para automóveis – alta de 9% na chance de inadimplência;
- empréstimo de consolidação (dívidas renegociadas) – aumento de 10% na chance de alguém fazer;
- limite de crédito – queda de até 2,7% nos locais onde foi legalizado.
“Esses efeitos geralmente aparecem cerca de 2 anos depois da legalização”, diz o estudo.
A reação dos bancos, pela redução da oferta de crédito, é apontada como um possível reflexo do aumento do risco com a piora na vida financeira.
“Estes resultados sugerem que os bancos estão respondendo ao aumento do risco financeiro causado pelas apostas esportivas e reduzindo os limites dos cartões de crédito para mitigar a potencial exposição ao risco”.
O estudo afirma que a implementação das apostas esportivas, embora possa trazer algum aumento de receita fiscal aos Estados, pode ter um impacto adverso na estabilidade financeira dos consumidores, especialmente em locais onde o acesso a apostas on-line é facilitado.
“De 2018 a 2023, quase US$ 300 bilhões foram apostados em mercados de jogos de azar esportivos recentemente legalizados, com a maioria das apostas fluindo por meio de canais on-line”, afirma o levantamento.
BETS NO BRASIL
No Brasil, só a modalidade on-line é permitida. Foi liberada em dezembro de 2023.
O tema ganhou mais atenção na última semana após o Banco Central divulgar um estudo indicando que as casas de aposta receberam R$ 10,51 bilhões de janeiro e agosto de 2024 de usuários do Bolsa Família –o levantamento, no entanto, deixa dúvidas sobre se isso aconteceu de fato ou se os dados podem ser devido a algum tipo de fraude.