Gestão fiscal prudente é fundamental para manter a dívida pública em níveis administráveis e evitar hiperinflação
Nos últimos anos, a discussão sobre a dívida pública no Brasil tem sido marcada por divergências de opinião entre analistas, especialmente depois das recentes projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional).
O FMI revisou suas expectativas para a dívida bruta brasileira, indicando um aumento de 84,7% do PIB, em 2023, para 87,6% em 2024, com um crescimento contínuo até 2029, quando estima-se que o endividamento atingirá 97,6% do PIB. Contudo, apesar dessas estimativas, há razões para acreditar que a dívida brasileira está sob controle, principalmente por causa das reformas institucionais e às políticas econômicas vigentes.
No passado, a ausência de reservas internacionais e a falta de uma política fiscal estruturada tornavam o Brasil extremamente vulnerável. Crises econômicas e hiperinflação eram frequentemente consequências desse vácuo de gestão. Sem mecanismos eficientes de controle, o país enfrentava sérias dificuldades em manter a estabilidade econômica, resultando em sacrifícios econômicos passados de geração em geração. Hoje, no entanto, a realidade é bem diferente.
A implementação de uma política monetária eficaz, conduzida por um Banco Central independente, desempenha um papel crucial na gestão da economia brasileira. Essa autonomia permite que o Banco Central persiga metas de inflação sem a interferência direta do governo, o que, por sua vez, ajuda a estabilizar a economia e a controlar a inflação.
Embora a elevação da taxa Selic seja uma ferramenta para conter a inflação, o Banco Central tem se mostrado cauteloso, evitando aumentos excessivos que possam impactar desnecessariamente o custo da dívida pública.
A história econômica brasileira é rica em exemplos de como governos que não conseguiram equilibrar suas contas foram os mais prejudiciais ao país. A hiperinflação vivida nas décadas passadas é um reflexo claro de administrações irresponsáveis, que esbanjavam recursos públicos sem qualquer preocupação com o impacto nas gerações futuras. Governos que finalizam seus mandatos com uma dívida pública controlada, ao contrário, são aqueles que deixam um legado de estabilidade e crescimento sustentável.
É importante ressaltar que, embora o aumento da Selic eleve o custo da dívida pública, o objetivo principal da autoridade monetária é assegurar que a inflação permaneça dentro das metas estabelecidas. O custo de um desvio desse objetivo pode ser muito maior, com inflação descontrolada e um impacto profundo na economia real, afetando diretamente o poder de compra da população e a confiança dos investidores.
Outro ponto relevante no debate sobre a dívida pública brasileira é a influência de fatores climáticos e setoriais na inflação. Recentemente, o IPCA-15 apresentou uma aceleração para 0,54% em outubro, impulsionado principalmente pela alta nos preços da energia elétrica, que registrou um aumento de 5,29% no mês. A seca extrema que atinge o Brasil tem reduzido a disponibilidade de água para geração de eletricidade, pressionando ainda mais os preços.
Além disso, a inflação de alimentos também tem sido impactada pela emergência climática, afetando diretamente a produção agrícola e, consequentemente, os preços ao consumidor.
Esses fatores, no entanto, são temporários e refletem choques externos que, embora relevantes, não alteram o quadro de controle sobre a dívida pública a longo prazo. O arcabouço fiscal aprovado recentemente, apesar das previsões do FMI, tem o potencial de estabilizar a dívida no médio prazo, desde que seja acompanhado de uma política fiscal responsável e de medidas que incentivem o crescimento econômico.
Por fim, o Brasil deve manter o equilíbrio entre a responsabilidade fiscal e a promoção do crescimento sustentável. O controle da inflação, aliado a uma gestão fiscal prudente, é fundamental para garantir que a dívida pública permaneça em níveis administráveis, evitando os erros do passado e assegurando um futuro mais próspero para as próximas gerações.