Carlos Thadeu | Alta de juros e o comércio

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista no estúdio do Poder360, nesta 5ª feira (17.ago.2023)

A necessidade de um controle inflacionário levou o Banco Central a manter as taxas de juros em níveis elevados

O mercado de crédito tem se consolidado como um dos principais impulsionadores do comércio brasileiro, que, por sua vez, é um motor fundamental da atividade econômica do país. Entretanto, a necessidade de um maior controle inflacionário levou o Banco Central a manter as taxas de juros em níveis elevados. Embora a instituição tenha iniciado um processo de corte na Selic, na última reunião, decidiu aumentar novamente a taxa, visando ancorar as expectativas em relação ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Atualmente, a inflação, apesar de fora da meta, está sob controle. No entanto, essa medida reflete a preocupação do Banco Central em garantir a estabilidade econômica e controlar a inflação em um ambiente econômico desafiador. Movimento importante em um momento com a inflação evoluindo em 12 meses nos últimos resultados e as projeções do IPCA subindo. A principal causa dessa evolução é o deficit público, além das sucessivas crises de oferta. O que leva a crer que há possibilidade de novos aumentos nos juros, afetando a disponibilidade de crédito. 

Apesar do aumento no custo da dívida, o saldo da carteira de crédito continua a crescer, embora em um ritmo mais moderado. Essa situação se deve ao fato de que o crédito se tornou uma necessidade para manter o padrão de consumo da população, mesmo com os juros mais altos encarecendo o acesso a financiamentos e empréstimos. O crédito, em sua essência, desempenha um papel crucial na sustentação do consumo, especialmente em um cenário em que muitos consumidores dependem de financiamentos para atender suas necessidades diárias.

Contudo, as inevitáveis altas dos juros pelo Banco Central, apesar de serem uma tentativa de atingir as metas de inflação, no curto prazo prejudicam o comércio. Tanto que as quedas observadas no comércio, que revelou retração de 0,8% entre julho e agosto no varejo ampliado, refletem com defasagens o aperto monetário. Dando sinais de que o crédito está esgotando sua alavancagem e mostrando que essa dependência do crédito requer uma análise cuidadosa, especialmente em relação ao impacto na inadimplência das pessoas físicas.

Dados da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores), divulgada mensalmente pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), revelam que as famílias estão tomando medidas para reduzir seu endividamento. Ao mesmo tempo, há um aumento no percentual de famílias que enfrentam dificuldades para honrar suas contas em atraso. Esse fenômeno acende um sinal de alerta para a saúde econômica, uma vez que a incapacidade de pagamento pode levar a um ciclo vicioso de endividamento crescente e inadimplência.

O setor imobiliário deve ser o mais afetado, sendo que somente os imóveis subsidiados, como “Minha Casa, Minha Vida”, ainda estão ainda tendo demanda. Ou seja, a população da classe média está sendo a mais afetada por insumos mais caros e custo de oportunidade alto.

Além disso, é importante considerar que a inadimplência não afeta apenas os consumidores, mas também tem repercussões significativas para o sistema financeiro e a economia como um todo. Instituições financeiras podem enfrentar aumento de perdas e restrições na concessão de crédito, o que, por sua vez, pode impactar o comércio e a atividade econômica, em geral.

Portanto, enquanto o crédito continua a ser um fator vital para o consumo e o crescimento econômico, é essencial que tanto os consumidores quanto às instituições financeiras mantenham uma abordagem prudente em relação ao endividamento. Um equilíbrio entre acesso ao crédito e a responsabilidade financeira será fundamental para garantir a estabilidade econômica e minimizar riscos no futuro. Apesar de ainda haver crédito, deve-se perguntar até onde vai o aperto monetário, inevitável com a política fiscal sem bússola e pressão inflacionária via oferta agrícola e demanda de serviços.

Fonte: Poder 360

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