Câmbio será peça-chave para determinar se haverá alta dos juros; se concretizado, ciclo deve contemplar pelo menos 2 aumentos
O Copom (Comitê de Política Monetária) deixou claro na ata da reunião de julho que está pronto, se necessário, para puxar o gatilho de um eventual aumento da Selic (taxa básica de juros), avalia o superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, Fernando Gonçalves.
O dólar, diz o economista, será uma peça-chave para determinar os próximos passos da política monetária. “Se tivermos um cenário internacional que empurre o câmbio para cima novamente, de maneira persistente e duradoura, a alta dos juros acaba se tornando inevitável”, afirma. “Se, por outro lado, o alívio que estamos vendo hoje [3ª feira (6.ago.2024)] continuar mais um pouco, entendemos que ele não iniciará um ciclo de alta”.
O ambiente global, declara, não é o único que pode pressionar a moeda norte-americana frente ao real. O efeito de questões domésticas, como a política fiscal e a mudança no comando do Banco Central, também são pontos de atenção.
ALTA PONTUAL NÃO FAZ MUITO SENTIDO
O cenário-base do Itaú, por enquanto, prevê que o Copom mantenha a Selic em 10,50% ao ano até o final de 2025. Está implícita nesta visão uma melhora nos preços dos ativos, diz o economista. “O nosso cenário é que o câmbio voltaria um pouco depois do estresse que teve ontem [2ª feira (6.ago)]. Já voltou um pouco“.
Gonçalves diz, no entanto, que, caso a melhora não se concretize e seja necessário retomar os aumentos da Selic, a tendência é de um ciclo de altas e não de uma elevação pontual da taxa.
Nessa hipótese, estaria na mesa um ciclo de pelo menos duas elevações dos juros pelo Copom. Elas somariam no mínimo 1 ponto percentual.
“Se não for necessário esse 1 ponto, talvez ela não ocorra. Talvez haja uma percepção de esperar um pouco mais e ver se, por exemplo, o câmbio ajuda. E, de certa maneira, não acontecendo uma ajuda no câmbio, acomodar um pouco na inflação”, diz o economista.
Gonçalves acrescenta que, historicamente, não são comuns ciclos muito curtos entre os BCs de forma geral e particularmente na autoridade monetária brasileira. “O banqueiro central não costuma sair de casa para fazer um ciclo de altas menor do que 1 ponto percentual”.
CORTES DO Fed
O cenário-base do Itaú conta com uma desaceleração gradual da economia dos Estados Unidos. O banco espera que o Fed (Federal Reserve) inicie o ciclo de cortes dos juros no país em setembro.
“Não corroboramos a visão de que haverá um corte extraordinário, ou seja, em uma reunião que não a usual, e não corroboramos muito a visão de que serão cortes mais acentuados, de 0,5 ponto percentual, por exemplo”, diz o economista. Para Gonçalves, a necessidade desses cenários só se daria caso houvesse uma piora adicional das condições vistas até agora.
Os dados da atividade norte-americana publicados nas últimas semanas, diz, vieram em linha com a expectativa de um “pouso suave”.
Gonçalves afirma que em cenários extremos, o dólar tende a se fortalecer. Já em uma dinâmica intermediária, como no caso de um “pouso suave”, pode contribuir para um enfraquecimento da moeda norte-americana frente ao real, acrescenta.
“Esse tema do ritmo da desaceleração dos Estados Unidos é muito importante para o cenário de câmbio e, portanto, indiretamente, para o cenário de juros aqui no Brasil”.