Com as inúmeras sequências que o filme Missão: Impossível (1996) teve – são ao todo seis e com mais dois a caminho -, nem dá para pensar que Top Gun: Maverick foi só a terceira vez que o astro Tom Cruise continuou uma de suas produções (a segunda sendo os recentes Jack Reacher). Essa foi, no entanto, a maior demora entre filmes em sua carreira, com o segundo longa (que continua a fazer a festa nos cinemas, sucesso de crítica e público) tendo um hiato de nada menos que 36 anos em relação ao original. A garotada certamente precisou correr para assistir o primeiro em algum serviço de streaming antes de conferir o blockbuster número 1 de 2022.
Agora, com Missão Impossível 8 à caminho e tendo em vista que essa é uma época de marcas pré-estabelecidas, na qual o público privilegia títulos que já conhece, seja em remakes, continuações ou reboots, pensamos numa matéria diferente. Usando o astro Tom Cruise e sua invejável filmografia como base, aqui iremos especular quais filmes de seu seleto repertório mereciam ganhar nova vida junto à geração atual. Aqui não levaremos em conta os que já possuem continuação ou os que as ganharão em breve. Então confira abaixo.
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O sucesso de Top Gun: Maverick provou que o público está disposto a comprar a ideia de sequências tardias. Afinal, grande parte dos jovens que lotam as salas de cinema sequer eram nascidos quando o filme original foi lançado lá em 1986. O fato prova também que existe um grande mercado para a celebração de tudo que envolve a década de 1980 – a exemplo de Stranger Things e Cobra Kai -, desde que seja feito com qualidade e da maneira correta, é claro. Seguindo por esta vertente, achamos mais que digno tirar da gaveta um longa ainda mais antigo que Top Gun para mais uma investida. Trata-se de Negócio Arriscado, de 1983, o primeiro filme protagonizado por Tom Cruise.
Na trama, o ator vive um colegial, filho de pais extremamente rígidos e conservadores. Saindo de viagem, eles deixam o filho sozinho em casa e esperam dele que apenas receba a visita de um representante da universidade para entrevista-lo. Acontece que o rapaz certinho, por influência dos amigos, termina por contratar os serviços de uma garota de programa (papel de Rebecca De Mornay), fazendo o que deveria ser um fim de semana tranquilo, sair completamente do controle. Uma das cenas mais icônicas do filme é uma dança que Cruise realiza apenas de camisa, cueca e meias. Assim como Curtindo a Vida Adoidado (1986), seria interessante ver em que tipo de adulto Joel (o personagem de Cruise) se transformou. É preciso levar em conta que ele consegue superar todos os seus problemas usando a inteligência e a sagacidade num único fim de semana, sem que seus pais percebam que a casa havia se transformado literalmente num bordel poucos dias antes de sua volta, por exemplo. Na sequência, Joel, agora na meia idade, mas com uma vida enfadonha, poderia se meter em outra aventura alucinante no período de um fim de semana.
Um ano antes de estourar em Top Gun (1986), se tornando um astro de renome mundial, Tom Cruise estrelava essa aventura do gênero de fantasia, com direito a todo tipo de criatura, como duendes e gnomos, unicórnios e até mesmo um gigantesco ser das trevas, na forma de um demônio vermelho e medonho, personificado por um irreconhecível Tim Curry (o palhaço Pennywise de It – Uma Obra-Prima do Medo, de 1990). Cruise vive o intrépido Jack, um jovem aventureiro, apaixonado pela princesa Lili (papel de Mia Sara, por falar em Curtindo a Vida Adoidado…). O filme foi dirigido por Ridley Scott (então saído de sucessos como Alien e Blade Runner), e seguia de perto a cartilha do gênero, muito popular no período, fazendo surgir obras como A História Sem Fim (1984), Labirinto – A Magia do Tempo (1986) e Willow – Na Terra da Magia (1988). O curioso é que, tirando Willow, nenhum deles se tornou bem-sucedido de bilheteria na época, mesmo assim todos despertaram uma legião de fãs algum tempo depois se tornando filmes cult.
Com uma nova onda de popularidade para o gênero da fantasia, magia e aventura na cultura pop, trazida por Harry Potter e O Senhor dos Anéis, em evidência até hoje (com direito a novas séries de O Senhor dos Anéis e Game of Thrones), e a volta de Willow na forma de uma série da Disney Plus, bem que Tom Cruise e Ridley Scott poderiam conversar para tirar do papel um novo capítulo desta aventura, e de quebra fazer o astro dar mais uma chance a este tipo de filme em sua carreira. Afinal, Scott fez novos Aliens, produziu um novo Blade Runner e planeja até mesmo um novo Gladiador. Não custaria investir num universo tão rico a ser explorado e que poderia render bons frutos, com o gênero novamente em voga.
Não deixe de assistir:
Neste filme indicado ao Oscar, de 1992, Tom Cruise também interpreta um oficial da marinha americana. Mas aqui, ao invés de pilotar caça-aviões, seu personagem, o Tenente Daniel Kaffee, é um advogado bon vivant, que passa seus dias jogando baseball e pegando casos fáceis. É quando vem parar em seu colo um caso que envolve a conspiração do alto escalão da marinha e que será um divisor de águas em sua vida e carreira. Quem está interessada no processo na verdade é outra advogada, a Capitã de Corveta JoAnne Galloway, papel de Demi Moore, sua superior que irá servir como sua mentora no caso. O trabalho em questão envolve um trote secreto conhecido como código vermelho, que funciona por debaixo dos panos como forma de “disciplinar” os soldados. Num destes, aplicado por dois oficiais, um rapaz morre asfixiado acidentalmente.
O clímax do filme ocorre nos tribunais, quando os advogados decidem intimar o líder da base, o Coronel Nathan R. Jessep, papel do arrebatador Jack Nicholson, dando tudo de si numa performance indicada ao Oscar. Na época, Cruise vinha do sucesso de Dias de Trovão, enquanto Demi Moore era recém-saída do fenômeno Ghost – Do Outro Lado da Vida (1990). O filme é baseado numa peça de Aaron Sorkin, que segue em atividade e se tornou um diretor de cinema, entregando filmes como A Grande Jogada (2017), Os 7 de Chicago (2020) e Apresentando os Ricardos (2021). Ou seja, se fosse o caso de revisitarmos o personagem de Cruise para mais uma investida inteligente nos bastidores dos tribunais da marinha, ninguém melhor para escrever e dirigir a sequência do que o próprio Sorkin.
No mesmo ano em que estrelou Top Gun e se tornou o ator mais quente de Hollywood, Tom Cruise também apareceria neste drama esportivo sobre jogadores de bilhar. Aqui, o ator trabalhou com dois monstros lendários da sétima arte: o astro Paul Newman e o diretor Martin Scorsese. O filme é na verdade a continuação de Desafio à Corrupção, de 1961, onde Newman protagonizava na pele do jovem Eddie Felson, um jogador ávido, mas sem muita experiência, que tenta dar o passo maior que a perna e termina “engolido” por profissionais veteranos, do calibre de Jackie Gleason e George C. Scott. Nesta sequência, passada 25 anos depois, Newman é o veterano, vendo no jovem egocêntrico, mas talentoso, vivido por Tom Cruise, uma chance de voltar ao jogo. Ambos são baseados nos livros de Walter Tevis, já falecido. Então, um terceiro filme da franquia precisaria ser um roteiro original.
Seria interessante ver aqui uma dinâmica parecida com a apresentada em Top Gun: Maverick, na qual Cruise agora ocupasse o papel do mentor veterano para algum jovem jogador e golpista. Seria legal se Scorsese ao menos produzisse o longa também. Em ambos os filmes com Newman existe um grande nível de reviravoltas na trama, escondidas a cada esquina, elemento que obviamente deveria ser incluído num eventual terceiro longa também. Vale lembrar que por A Cor do Dinheiro, o grande Paul Newman venceu sua única estatueta do Oscar – como o melhor ator daquele ano. O filme ainda recebeu indicações para direção de arte, roteiro adaptado e atriz coadjuvante para Mary Elizabeth Mastrantonio.
Por falar em Top Gun, quatro anos depois do fenômeno que o filme foi em 1986, Tom Cruise voltava à parceria com o diretor Tony Scott para realizar o que ficou conhecido como “Top Gun sobre rodas”. Dias de Trovão é realmente isso, uma versão do filme com jatos, mas com carros de stock car. Cruise interpreta até o mesmo papel, do jovem piloto arrogante e inconsequente, mas extremamente habilidoso. Completando as semelhanças entre os longas, ele também se relaciona com uma mulher mais alta, embora esta aqui não seja mais velha que ele. Quem interpreta o par de Cruise no filme, olhe só, é Nicole Kidman, e o encontro das telas se estenderia para a vida real, com os dois se apaixonando e iniciando um relacionamento que duraria 11 anos e dois filhos. Assim como Top Gun, Dias de Trovão tem todos os elementos que fariam os fãs se interessarem em saber por onde anda e como está a vida de Cole Trickle, o destemido piloto do Daytona.