Em entrevista exclusiva ao Grupo Perfil, a presidente da ONG Sea Shepherd Brasil, que atua em defesa dos oceanos e espécies marinhas, fala sobre o que motivou a prisão do ativista e sua situação no local: “sempre otimista”
6 set
2024
– 16h44
(atualizado às 16h53)
A prisão do ativista Paul Watson gerou repercussão mundial. Autoridades e celebridades de todo o mundo manifestaram repúdio à detenção do nome que tornou-se referência quando se fala em defesa dos oceanos, especialmente, das baleias. Watson é fundador da ONG Sea Shepherd. Ele foi acusado de danificar um navio baleeiro japonês há 14 anos. Porém, foi preso somente este ano, ao atracar em Nuuk, capital da Groenlândia, no dia 21 de julho, com base em um pedido de prisão expedido pela Interpol.
Conversamos com a presidente da ONG Sea Shepherd Brasil, Nathalie Gil, que está em Nuuk acompanhando o caso. Ela explica que a visibilidade de sua detenção deu mais ‘força’ à luta. “Conversei com ele, que está otimista. Diz que se alguém pensa que vão parar sua oposição à pesca ilegal de baleias, estão enganados. Seu navio atual é a Prisão de Nuuk”, relata Nathalie. Apesar disso, uma questão o entristece: “Vai perder o aniversário de um dos filhos… Isso, sim, incomoda ele”.
Acusações contra Paul Watson
Autoridades do Japão o acusam de danificar um dos seus navios baleeiros em 2010 na Antártica, além de ferir um tripulante com uma espécie de ácido. No entanto, Nathalie afirma que, ao assistir às filmagens, é possível observar que o ácido butírico, quando lançado, não atingiu ninguém. “É inofensivo, mas é um ácido fedorento. Jogar nos navios é uma estratégia de fazer com que não continuem as atividades até limparem o deck. Isso dá tempo para que as baleias fujam”, diz ela.
“Eles alegam, ainda, que Watson interceptou e atrapalhou uma atividade comercial. Vale ressaltar que tecnicamente estavam ilegais, matando as baleias, dizendo que era pra pesquisas. Depois, ficou provado que o Japão estava ilegal nestas pesquisas e companhias baleeiras japonesas estavam sendo processadas”.
Na entrevista, relembro uma conversa nossa, há alguns meses, sobre a importância de preservar os oceanos. Na ocasião, Nathalie fez um alerta quanto à falta de conscientização da sociedade em relação ao tema. “Falam frutos do mar como se o mar fosse um supermercado, onde pegam produtos de uma prateleira”. Hoje, relembrou esta fala com as lições que aprende de Watson sobre a importância da vida marinha para o planeta e, consequentemente, para os seres humanos:
“Paul Watson tem essa visão biocêntrica do mundo, de que somos apenas uma espécie nesse planeta. Todas as espécies têm seu papel no ecossistema e as baleias são fundamentais, por exemplo, pela migração de nutrientes do fundo do mar para a superfície, para alimentar os plânctons, que são especies que produzem o oxigênio que respiramos! Isso pra mencionar apenas as baleias”.
Por fim, ela afirma que a sociedade dá as costas para o oceano. “Salvar a baleia é a ponta do iceberg. Se a gente não consegue salvar um animal que a gente tem uma simpatia, é um mamífero que voltou ao mar, estamos perdidos… Ou pior: a gente tem um sistema judiciário que permite o avanço das pessoas que querem matar estes animais”, conclui.