O fim do regime de cinco décadas comandando pela família Assad mudará o equilíbrio de poder na região — com muitas incertezas no horizonte.
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Hugo Bachega – Correspondente da BBC News no Oriente Médio
8 dez
2024
– 06h56
(atualizado às 07h46)
A queda do presidente da Síria, Bashar al-Assad, era algo quase impensável há apenas uma semana, quando os rebeldes começaram sua surpreendente campanha contra o regime partindo da sua base em Idlib, no noroeste da Síria.
Este é um ponto de virada para a Síria. Assad chegou ao poder em 2000 após a morte de seu pai Hafez, que governou o país por 29 anos com punho de ferro. O mesmo estilo foi adotado por Assad.
O jovem Assad herdou uma estrutura política rigidamente controlada e repressiva, onde a oposição não era tolerada.
No início, havia esperanças de que ele pudesse ser diferente — mais aberto, menos brutal. Mas isso durou pouco.
Assad será sempre lembrado como o homem que reprimiu violentamente protestos pacíficos contra seu regime em 2011, o que levou a uma guerra civil. Mais de meio milhão de pessoas foram mortas, seis milhões de outras se tornaram refugiadas.
Com a ajuda da Rússia e do Irã, ele esmagou os rebeldes e sobreviveu. A Rússia usou seu formidável poderio aéreo, o Irã enviou conselheiros militares para a Síria e o Hezbollah, a milícia no vizinho Líbano, mobilizou seus combatentes bem treinados.
Essa ajuda não veio dessa vez.
Seus aliados, preocupados com seus próprios assuntos, na prático o abandonaram. Sem a ajuda deles, suas tropas foram incapazes — e, em alguns lugares, aparentemente não estavam dispostas — de deter os rebeldes, liderados pelo grupo militante islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Primeiro, o HTS tomou Aleppo, a segunda maior cidade do país, na semana passada, quase sem resistência. Depois Hama. E dias depois, a estratégica cidade de Homs, isolando Damasco. Em questão de horas, eles entraram na capital, a sede do poder de Assad.
O fim do regime de cinco décadas comandando pela família Assad mudará o equilíbrio de poder na região.
O Irã, mais uma vez, está vendo sua influência sofrer um revés significativo. A Síria sob Assad era parte da conexão entre os iranianos e o Hezbollah no Líbano, e foi fundamental para a transferência de armas e munições para o grupo.
O próprio Hezbollah foi severamente enfraquecido após sua guerra de um ano com Israel e seu futuro é incerto.
Outra facção apoiada pelo Irã, os Houthis no Iêmen, foram repetidamente alvos de ataques aéreos. Todas essas facções, mais as milícias no Iraque e o Hamas em Gaza, formam o que Teerã descreve como o Eixo da Resistência, que agora foi gravemente atingido.
Este novo quadro será celebrado em Israel, onde o Irã é visto como uma ameaça existencial.
Muitos acreditam que esta ofensiva não poderia ter acontecido sem a bênção da Turquia. A Turquia, que apoia alguns dos rebeldes na Síria, negou apoiar o HTS.
Por algum tempo, o presidente Recep Tayyip Erdogan pressionou Assad a se envolver em negociações para encontrar uma solução diplomática para o conflito que pudesse permitir o retorno dos refugiados sírios.
Pelo menos três milhões deles estão na Turquia, e esta é uma questão sensível localmente.
Mas Assad se recusou a fazê-lo.
Muitas pessoas estão felizes em ver Assad partir.
Mas o que acontece agora? O HTS tem suas raízes na Al-Qaeda e um passado violento.
Eles passaram os últimos anos tentando se reinventar como uma força nacionalista, e suas mensagens recentes têm um tom diplomático e conciliatório.
Mas muitos não estão convencidos e estão preocupados com o que os rebeldes podem estar planejando fazer depois de derrubar o regime.
Ao mesmo tempo, as mudanças dramáticas podem levar a um perigoso vácuo de poder e, eventualmente, resultar em caos e ainda mais violência.