Ministro da Fazenda afirma que há “um trabalho a fazer” e que ter o selo de bom pagador “é uma possibilidade concreta”
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta 3ª feira (1º.out.2024) acreditar que o Brasil deve retomar o grau de investimento até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2026. A declaração foi dada depois que a agência de risco Moody’s elevou a nota de crédito do Brasil de Ba2 para Ba1, além de manter a perspectiva em “positiva”, o que pode melhorar ainda mais a avaliação no futuro.
“Eu acredito realmente que nós temos a chance de completar o mandato do presidente Lula reobtendo o grau de investimento. Ele não está dado. Você vai ver em todas as entrevistas que eu dou, eu sou o 1º a reconhecer que nós temos um trabalho a fazer. Ele não está dado, mas ele é uma possibilidade concreta”, disse a jornalistas.
Haddad também disse ter lido “rapidamente” trechos do relatório da agência de risco e que o documento está “em linha” com o que o governo defende. Afirmou ainda que a administração petista seguirá “sem baixar a guarda” quanto às despesas e às receitas.
“Se nós continuarmos perseverando nesse caminho de ajustando o fiscal e o monetário, nós temos uma grande chance de conseguir uma estabilidade da relação dívida PIB [Produto Interno Bruto], dos gastos públicos, depois de muitos anos de desequilíbrio fiscal”, declarou.
O Brasil perdeu o grau de investimento em 2015, sob a presidência de Dilma Rousseff (PT). Na prática, significa dizer que o país perdeu o selo de bom pagador concedido por agências de risco.
Sem citar Dilma, Haddad reforçou que a perda se deu por um “desequilíbrio muito grande” nas contas públicas.
Ao comentar a decisão da Moody’s, Haddad mencionou fatores, como o crescimento do PIB, inflação controlada, a reforma tributária sobre o consumo e o plano de transformação ecológica do governo.
“[Isso] permite você fazer um ajuste fiscal sem penalizar a população mais pobre, sem ter a necessidade de tomar medidas de austeridade, que vão ceifar direitos estabelecidos”, disse.
Mais cedo, o Ministério da Fazenda comemorou a elevação feita pela Moody’s. Segundo o órgão, o aumento de Ba2 para Ba1 “reflete o reconhecimento dos avanços nas contas públicas, de um cenário propício ao crescimento e da solidez dos fundamentos da economia brasileira”.
REVISÃO DE MEDIDAS
Fernando Haddad também disse haver “espaço necessário” para conversar com Lula e rever algumas medidas. O Auxílio Gás foi um dos pontos citados ao dizer que o presidente autorizou um redesenho do benefício para que esteja dentro do marco fiscal.
“O governo às vezes tropeça, às vezes toma uma medida e revê. É importante a gente reconhecer que tem um caminho a ser trabalhado e se porventura algo sai um pouco do roteiro estabelecido, nós temos toda a liberdade de rever para melhor. Não há problema em relação a isso”, declarou.
MUDANÇA DA NOTA DE CRÉDITO
Em maio, a agência havia dito que o país tinha “solidez fiscal fraca”. No anúncio desta 3ª feira (1º.out.2024), avalia que o crescimento está mais robusto que o avaliado anteriormente, mas que a credibilidade da estrutura fiscal do Brasil ainda é “moderada”.
A Moody’s revisou para 2,5% a estimativa para o crescimento do PIB do Brasil em 2024. Disse que, no médio prazo, a expansão da atividade econômica deve ser mais sólida em comparação com anos de pré-pandemia da covid. O motivo: “Reformas estruturais implementadas ao longo de sucessivas administrações relacionadas a uma série de áreas políticas”.