Houve reuniões, mas não levaram à ação, diz Mourão

Hamilton Mourão

Senador e ex-vice de Bolsonaro elogiou a atitude do Exército em não ceder participar do plano para o suposto golpe de Estado

O senador e ex-vice-presidente da República, general Hamilton Morão (Republicanos-RS), falou sobre a trama golpista e disse que houveram reuniões entre militares para articular o suposto golpe de Estado em 2022, mas que não levaram a nenhuma ação.

“É uma conspiração bem tabajara, conversas de WhatsApp. Em tese, houve reuniões, mas não levaram à nenhuma ação. Na linguagem militar, nós definimos como “ações táticas” tudo aquilo que há movimento. Não houve nada disso. Houve pensamento, não passou disso”, afirmou.

O general, em entrevista ao Globo antes da prisão de Braga Netto no sábado (16.dez.2024), disse que a articulação dos militares não foi uma tentativa de golpe. Segundo ele, “golpe não funciona assim” e seria como os que aconteceram na Síria, na Venezuela e na Turquia: “É tropa na rua, é tiro, é bomba”.

Mourão também elogiou a atuação do Exército em não ceder aos apelos dos militares para participar da execução do suposto golpe em 2022. Segundo as investigações da PF (Policia Federal), o golpe não deu certo devido à falta de apoio do Alto Comando do Exército e da Aeronáutica.

“O Exército se baliza por 3 vetores: trabalhando dentro da legalidade, usando legitimidade e mantendo a estabilidade do país. O Exército não pode ser fator de instabilidade. É óbvio que uma reversão de um processo eleitoral na base da força lançaria o país num caos. Então, o Exército agiu dentro desses vetores”, disse.

O senador disse que o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes teve a atitude correta, não havendo “o que contestar” sobre isso. Também disse que para a realização do golpe o apoio das Forças Armadas seria essencial. 

“Houve uma derrota eleitoral e tem que ser encarada dessa forma. E as Forças Armadas, como instituição de Estado, que não pertence ao governo A ou B, permaneceu à margem disso”, declarou.

Leia outros pontos da entrevista abaixo. 

ASSASSINATOS DE LULA E ALCKMIN

“Acho essas questões totalmente fora do contexto. Essa investigação da PF, que levou praticamente dois anos, é um escarafunchar de conversas de WhatsApp e de algumas mensagens de e-mails trocados. A gente nunca sabe o contexto em que isso foi efetivamente tratado. Os que estão em indiciados, me parece um grupo pequeno e que não tinha a mínima condição de executar aquilo que em tese estaria dito que eles iriam executar. E também me chama atenção a questão de que eles diziam “vamos ter armas, mas vamos matar por envenenamento”. Então pra que ter arma? São coisas surreais, na minha visão. Eu desconhecia toda e qualquer conversa neste sentido. Eu sabia que havia reuniões no Palácio da Alvorada depois do segundo turno, na época o presidente com os comandantes, o Braga Netto, mas desconheço os assuntos.”

SUA PARTICIPAÇÃO NO PLANO

“Nenhuma vez fui chamado para reunião dessa natureza. (…) Para mostrar mais uma vez a total falta desconexão dessas conversas de uma realidade. Eu nunca participei de nenhuma reunião, minha agenda é pública, basta consultar. Aí, 2 malucos resolvem ter uma conversa sem pé nem cabeça, e um resolve citar o meu nome, só posso dizer isso. Tanto que eu nem dei bola para isso.”

MINISTRO DE LULA JOSÉ MÚCIO

“Desde o primeiro momento eu achei que foi uma escolha acertada do presidente da República, pelo perfil do ministro Múcio. Em um momento de desconfianças mútuas, o ministro Múcio vem fazendo um trabalho que eu considero admirável.”

ELEIÇÕES DE 2026

“Lula venceu Bolsonaro mais por deficiências nossas. Do nosso grupo, que não trabalhou direito naquela eleição. Bolsonaro perdeu mais por idiossincrasias que ocorreram ao longo do mandato do que pelo Lula. [Por] questões que enfrentamos na pandemia, que geraram frisson na sociedade, e pessoas deixaram de votar. A direita tem que se unir. Com união, temos total condição de vencer.”

PANDEMIA

“Não é questão de discordar [de Bolsonaro]. A questão principal sempre foi evitar comentários sobre uma área técnica que a gente não domina. Nunca discordei das atitudes do presidente. [Mas] acho que teve comentários desnecessários”. Também afirmou que não tem conversado com o ex-presidente Bolsonaro.

EMENDAS

“Sou um crítico de como o Legislativo avançou sobre o orçamento. Isso é uma coisa. Outra coisa é o STF interferir em um processo que é entre Legislativo e Executivo. Apesar de ter ordem do Executivo para liberação, os donos dos CPFs que liberam os recursos estão receosos.”

PRISÃO DE BRAGA NETTO

Candidato a vice-presidente na chapa com Jair Bolsonaro (PL) em 2022, o general Braga Netto (PL) foi preso preventivamente pela PF (Polícia Federal) neste sábado (14.dez.2024). O mandado foi autorizado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Sua prisão foi mantida pelo juiz auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, em audiência de custódia.

Braga Netto é um dos alvos da operação Contragolpe, que investiga o planejamento de uma tentativa de golpe e de homicídio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes.

Segundo a corporação, Braga Netto foi detido por tentar atrapalhar a produção de provas. O general teria atuado para obter informações sobre a delação premiada do ex-ajudante de ordens Bolsonaro Mauro Cid. Também teria financiado a execução de monitoramento de alvos e planejamento de sequestros e, possivelmente, homicídios de autoridades.

Motivos para a prisão de Braga Netto, segundo a PF:

  • Teve participação “preponderante” na execução dos atos criminosos;
  • Foi o financiador do golpe, logo, integrante da organização criminosa;
  • Entregou o dinheiro para a execução dos atos ilícitos dos militares em uma sacola de vinhos;
  • Interferiu e tentou atrapalhar as investigações;
  • Tentou obter dados sigilosos do acordo de Mauro Cid com a PF;
  • Realizou ligação com Lourena Cid (pai de Mauro) sobre o acordo;
  • Documento com anotações sobre a delação de Cid estava na mesa do assessor de Braga Netto;
  • Tentou impedir que Cid entregasse informações dos investigados à PF;
  • Mantinha os integrantes do plano de golpe informados;
  • Reunião que resultou na elaboração do plano golpista foi na sua casa;
  • Participou “ativamente” da tentativa de pressionar a Aeronáutica e o Exército a aderirem ao golpe;
  • Chefiaria o gabinete de crise a ser instaurado após a execução do golpe.

INDICIAMENTO

Braga Netto está sendo indiciado pela polícia pelos crimes de “promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa”, sob pena de 3 a 8 anos de prisão.

Além disso, é indiciado pelos crimes de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito (4 a 8 anos de prisão) e tentativa de golpe de Estado (4 a 12 anos de prisão).

É provável que a PGR (Procuradoria Geral da República) decida se denunciará Braga Netto, Bolsonaro e os outros 38 indiciados pela PF depois do recesso do Judiciário, que começa em 20 de dezembro e se estende até janeiro.

OPERAÇÃO CONTRAGOLPE

Investigações da PF que embasaram a operação Contragolpe miram uma organização criminosa responsável por planejar, segundo as apurações, um golpe de Estado para impedir a posse do governo eleito em 2022.

Os agentes miram os chamados “kids pretos”, grupo formado por militares das Forças Especiais, e investigam um plano de execução de Lula e Alckmin.

Ainda conforme a corporação, o grupo também planejava a prisão e execução do ministro Alexandre de Moraes. Os crimes investigados, segundo a PF, configuram, em tese, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado e organização criminosa. Ao todo, os envolvidos podem ser condenados até 28 anos de prisão.

O plano estava sendo chamado de “Punhal Verde e Amarelo” e seria executado em 15 de dezembro de 2022.

BRAGA NETTO NEGOU PARTICIPAÇÃO

Em 23 de outubro, o ex-ministro de Bolsonaro se pronunciou pela 1º vez sobre o assunto e negou que tenha participado do planejamento de tentativa de golpe de Estado e assassinatos.

Em suas redes sociais, o também ex-ministro da Casa Civil disse que “nunca se tratou de golpe, e muito menos de plano de assassinar alguém”.

“Agora parte da imprensa surge com essa tese fantasiosa e absurda de ‘golpe dentro do golpe’. Haja criatividade…”, escreveu Braga Netto.

Assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto também foi declarado inelegível até 2030 por abuso de poder político, uso indevido dos meios de comunicação e conduta vedada a autoridades nas eleições presidenciais de 2022.

Em nota (íntegra – PDF – 80 kB) publicada neste sábado (14.dez), a defesa de Braga Netto disse que provará que o ex-ministro da Defesa não tentou obstruir as investigação da PF.

“A Defesa técnica do General Walter Souza Braga Netto tomou conhecimento parcial, na manhã de hoje (14/12/2024), da Pet. 13.299-STF. Registra-se que a Defesa se manifestará nos autos após ter plena ciência dos fatos que ensejaram a decisão proferida. Entretanto, com a crença na observância do devido processo legal, teremos a oportunidade de comprovar que não houve qualquer obstrução as investigações”, diz o comunicado.


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Fonte: Poder 360

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