Israel voltou a bombardear alvos do Hezbollah no Líbano na madrugada desta terça-feira (24), um dia após os ataques intensos que deixaram mais de 500 mortos e aumentaram os temores de um conflito regional, quase um ano após o início da guerra em Gaza.
A Assembleia Geral da ONU em Nova York nesta terça-feira será dominada pelo medo de uma guerra ampla no Oriente Médio, após a intensificação da escalada militar entre o Exército israelense e o movimento islamista pró-Irã Hezbollah no Líbano.
Desde o início da guerra em Gaza, em 7 de outubro de 2023 com o ataque do Hamas em território israelense, o Exército de Israel e o Hezbollah, que apoia o aliado palestino, trocam tiros quase diariamente ao longo da fronteira entre Israel e Líbano.
Mas na segunda-feira foi registrado o dia mais letal na região, quando Israel bombardeou “quase 1.600 alvos terroristas” no sul do Líbano e no Vale do Bekaa, no leste, redutos do Hezbollah.
Ao menos 558 pessoas morreram nos ataques, incluindo 50 crianças e 94 mulheres, e 1.835 ficaram feridas, segundo um balanço atualizado divulgado nesta terça-feira pelo Ministério da Saúde libanês.
O Exército israelense afirmou que vários integrantes da milícia pró-Irã morreram nos bombardeios.
Nesta terça-feira, as tropas israelenses voltaram a bombardear “dezenas de alvos do Hezbollah em diversas áreas no sul do Líbano”, incluindo infraestruturas e depósitos de armas do movimento xiita, informou um comunicado militar.
O Hezbollah lançou mísseis Fadi 2 contra Israel e atingiu posições militares perto de Haifa, no norte de Israel, incluindo uma “fábrica de explosivos” a 60 km da fronteira libanesa, assim como a cidade de Kiryat Shmona.
“Dia de terror”
Dezenas de milhares de libaneses fugiram das áreas bombardeadas desde segunda-feira, segundo a ONU, e seguiram para Sidon, a maior cidade do sul do país, ou Beirute. Nesta terça-feira, vários carros permaneciam bloqueados na rodovia que leva à capital.
Quase 500 pessoas entraram na Síria procedentes do Líbano, informou uma fonte das forças de segurança de Damasco, que pediu anonimato à AFP. Os deslocados atravessaram a fronteira nos postos de Al Qusayr e Debusiya.
“Foi um dia de terror”, declarou à AFP Thuraya Harb, uma libanesa de 41 anos refugiada nas imediações de Beirute, após uma viagem de oito horas a partir do sul. “Eu não queria partir, mas as crianças estavam com medo e saímos, com a roupa do corpo apenas”, acrescentou.
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, denunciou um “plano de destruição” contra seu país, onde as escolas permanecerão fechadas nesta terça-feira.
Em apenas um dia, o Exército de Israel “neutralizou dezenas de milhares de foguetes e munições”, disse o ministro da Defesa, Yoav Gallant, para quem o Hezbollah vive “a semana mais difícil desde a sua criação” em 1982.
Israel alertou na semana passada que o centro de gravidade da guerra em Gaza estava em deslocamento para o norte, para permitir o retorno da população que mora no norte do território do país.
O Hezbollah prometeu que continuará atacando Israel “até o fim da agressão em Gaza”.
As hostilidades entre Israel e o Hezbollah aumentaram desde a onda de explosões de dispositivos de comunicação do movimento islamista na semana passada, atribuídas a Israel, ação que provocou 39 mortes, segundo as autoridades libanesas.
Na sexta-feira, um bombardeio israelense na periferia sul de Beirute matou 16 membros da força de elite do movimento pró-Irã, incluindo o seu líder, Ibrahim Aqil.
“Outra Gaza”
“Estamos quase à beira de uma guerra total”, alertou o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.
O novo presidente do Irã, Masud Pazeshkian, declarou ao canal CNN que o Hezbollah não poderia “ficar sozinho” diante de Israel. Também afirmou que a comunidade internacional “não deve permitir que o Líbano vire outra Gaza”.
O presidente americano, Joe Biden, que pronunciará nesta terça-feira seu último discurso na Assembleia Geral da ONU, afirmou que trabalha por uma “desescalada”.
O governo dos Estados Unidos se opõe a uma invasão terrestre do Líbano e apresentará “ideias concretas” aos aliados esta semana para tentar apaziguar o conflito, afirmou uma fonte da administração americana.
O G7 destacou que “nenhum país ganhará com uma escalada no Oriente Médio”.
O Iraque pediu uma “reunião urgente” dos países árabes à margem da Assembleia Geral para “deter” Israel.
A guerra na Faixa de Gaza começou em 7 de outubro de 2023, após o ataque do Hamas em Israel, no qual morreram 1.205 pessoas, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses.
Dos 251 sequestrados durante a incursão dos islamistas, 97 permanecem em cativeiro no estreito território palestino, incluindo 33 declarados mortos pelo Exército israelense.
A ofensiva israelense provocou as mortes de pelo menos 41.467 palestinos, segundo dados do Ministério da Saúde deste território governado pelo Hamas, considerados confiáveis pela ONU, e um desastre humanitário.