(Folhapress) Israel ampliou a pressão sobre o Hezbollah neste domingo (29), atingindo alvos em todo o Líbano. O governo em Beirute fala que um milhão de pessoas, ou cerca de 1/5 de sua população, já foi tirada de casa devido à guerra.
Na sexta (27), Tel Aviv matou o líder do grupo fundamentalista libanês, que apoia o Hamas no conflito iniciado pelos terroristas palestinos há quase um ano. O mega-ataque que tirou Hassan Nasrallah do jogo é o zênite da crise até aqui, mas não seu fim.
Desde que o premiê Binyamin Netanyahu ordenou o bombardeio do QG do Hezbollah em Beirute, ocorrido minutos depois de ele ter defendido a guerra e o “longo braço de Israel” contra o Irã e seus prepostos como os grupos libanês e palestino, os ataques continuaram.
Neste domingo, as IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla inglesa) anunciaram ter matado na véspera Nabil Quaq, chefe da unidade segurança do Hezbollah, em Beirute. A capital libanesa voltou a ser alvo do que os israelenses chamam de “ataques precisos”, o que sugere mais notícias semelhantes em breve.
Também foi morto em um ataque de Israel, mais ano norte no vale do Bekaa, um comandante de outro grupo rival de Tel Aviv, a Jama’a Islamiya.
A campanha para dizimar o Hezbollah começou há meros 11 dias, quando pagers começaram a explodir no bolso de integrantes do grupo. A morte de Nasrallah, 32 anos após ascender ao poder na agremiação, encimou o processo.
Israel também divulgou que matou, no ataque da sexta, 20 pessoas da cúpula do Hezbollah, além de um general da Guarda Revolucionária do Irã —Teerã, que fez sua única ação direta na história contra o Estado judeu justamente por um assassinato semelhante em abril, não se manifestou.
O chanceler Abbas Araghchi disse em um comunicado que seu assassinato “não ficará sem resposta”. Já o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, foi transferido para um local seguro após a morte de Nasrallah, segundo a agência Reuters.
Após relatos da rede americana ABC e do The New York Times acerca de incursões terrestres israelenses já em curso no sul do Líbano, em antecipação a uma invasão, a Folha foi ouvir pessoas familiarizadas com as operações.
O relato colhido é um pouco diferente do da rede de TV, que falou em curtas ações, e do jornal, que citou infiltrações mais profundas. Segundo o que foi dito, unidades especiais estão mapeando áreas intermediárias, talvez até 15 km ao norte da fronteira, para localizar pontos de lançamento não rastreados e refinar o mapeamento do terreno.
Numa era em que tudo se resolve com drones e satélites, há coisas que só são feitas direita por seres humanos com visão no campo, como perceber esconderijos e pontos de emboscada disfarçados.
Na via inversa, o Hezbollah tem tratado de manter uma imagem de combatividade. Ainda que Israel diga que destruiu 50% de seu arsenal, algo obviamente impossível de aferir de forma independente, conta com muitos foguetes e mísseis para seguir impondo disrupção na rotina do rival.
Neste domingo, foram ao menos 75 projeteis lançados, a maioria rumo ao norte de Israel. Não houve registro de danos ou feridos graves. No porto meridional de Eilat, um míssil disparado por algum grupo pró-Irã do Iraque.
O emprego de prepostos regionais, como os houthis do Iêmen, é uma das armas que Teerã possui para evitar uma potencialmente desastrosa guerra ampla, com a presença provável dos fiadores de Israel, os Estados Unidos.
Também neste domingo, o secretário americano de Defesa, Lloyd Austin, determinou o reforço adicional de suas capacidades no Oriente Médio.
Segundo o Pentágono, a ideia é mandar uma mensagem de dissuasão contra Teerã e seus aliados —no sábado (28), os rebeldes iemenitas tentaram pela segunda vez alvejar Tel Aviv com o que dizem ser um míssil hipersônico.
Israel foi menos sutil: anunciou ter bombardeado infraestrutura portuária dos houthis neste domingo, em uma ação ainda não detalhada. Na sexta, os rebeldes haviam lançado 23 drones e mísseis contra três navios de guerra americanos no mar Vermelho, sem deixar danos aparentes.
Só no teatro de operações sírio, ativo em guerra civil desde 2012, disse o governo americano, os EUA mataram 37 acusados de terrorismo em setembro.
Enquanto isso, a guerra que deu origem à crise atual, no dia 7 de outubro de 2023, segue seu curso em marcha reduzida, mas constante. Uma ação na Faixa de Gaza matou chefes locais do Hamas, e o número de vítimas contado pelos palestinos chegou a 41.595.