A pandemia de Covid-19 deu uma leve distorcida na noção temporal das pessoas, já que as rotinas mudaram drasticamente. Talvez por isso seja tão difícil de acreditar que Toy Story 4 já tenha cinco anos de existência. Pois é, o filme foi lançado em junho de 2019 e deu início a um grande debate dentre os fãs.
Enquanto alguns amaram a aventura, outros detestaram o quarto capítulo antes mesmo da estreia do longa nas telonas. Isso porque muitos deram a franquia encerrada em 2010, com o fim da jornada de Woody e os brinquedos junto ao Andy, que cresceu e foi para a faculdade. O problema é que uma franquia tão popular quanto essa raramente permanece ‘finalizada’. Toy Story chegou a um nível que atrai público independentemente do que lance, seja longa, curta ou série derivada. E a Pixar não quis perder a chance de lucrar novamente.
Um dos argumentos dados pelas pessoas que não gostam do filme é que ‘não havia necessidade’ de um novo capítulo. Falar disso é complicado, porque o cinema não é sobre ‘precisar’ ou ‘não precisar’, mas sobre contar histórias. E a ordem na Pixar, após o sucesso do terceiro filme, era só mexer na franquia novamente caso bolassem uma história que fosse tão boa, quiçá melhor, que a anterior.
Tomando por uma perspectiva mais humana, a trama de Toy Story 4 é incrível. Ao longo de 24 anos, os fãs viram o Woody dedicar sua vida a seguir o Andy e condicionar sua existência à felicidade dele. Só que aí que entra a sagacidade dessa nova história. O filme apresenta ao público o Garfinho, um ‘brinquedo’ que não é exatamente um brinquedo, mas um amontoado de lixo grudado. Ele toma o lugar do Woody como favorito da Bonnie, mesmo que não se entenda como um brinquedo. Na mente do Garfinho, ele é lixo e deve concluir sua missão de vida, que é ser descartado.
Mas o Woody, com seu jeitão teimoso e determinado, foca em mostrar ao Garfinho que há algo muito melhor esperando por ele, que é o amor verdadeiro de uma criança. É uma missão árdua, mas ele se empenha em tentar abrir os horizontes do novo amigo, tentando fazê-lo entender que não adianta se prender à crença que foi imposta a ele há muito tempo.
Ao mesmo tempo, o Woody se perde da Bonnie e reencontra sua antiga namorada, a pastorinha Betty. Eles eram muito conectados, mas foram afastados pelo tempo – e pelas doações. Só que aquela pastora que ele conheceu precisou mudar seu jeito meigo para ‘sobreviver’. Conforme a aventura se desenvolve, ele vê a ‘ex’ se virando de forma divertida em meio a um parque de diversões e uma nova galera, onde eles brincam, ajudam outros brinquedos e se aventuram diariamente. Todo dia é uma nova e inesperada aventura para eles.
O paralelo entre Woody e o Garfinho é construído de forma sutil e quase poética, porque o Garfinho se mantém fixo ao ideal de ir para o lixo até entender o quanto vale o amor de uma criança. Já o Woody, diante de sua paixão do mundo dos brinquedos, reluta em aceitar que possa haver um mundo para brinquedos que não estão mais conectados às crianças, mas acaba sendo convencido pela Betty de que eles podem, sim, ser felizes nesse mundão, sem rumo, sem destino e sem rotina. Apenas se amando e ajudando outros brinquedos em situação parecida.
Não deixe de assistir:
É um filme sobre despedidas, mas principalmente sobre recomeços e novos inícios. A música composta para o Garfinho foi feita para passar uma mensagem. Randy Newman afirmou que fez a canção para tentar mudar a cabeça de jovens que estivessem cogitando o suicídio. Por meio de uma batida divertida, ele tenta mostrar que há saída para todos e que um propósito maior aguarda a cada um de nós. E se até um monte de lixo pode ser amado por uma criança, todo mundo poderá encontrar o amor.
No fim das contas, Toy Story 4 é um filme muito divertido, já que os brinquedos mais amados do mundo seguem aprontando suas trapalhadas com muito bom humor. Além disso, a tecnologia de animação da Pixar evoluiu a um nível assustador, principalmente quando se compara com o primeiro longa, lá de 1995.
Mesmo que haja um certo preconceito por conta do final perfeito de Toy Story 3, vale muito a pena dar uma chance para Toy Story 4, porque passa longe de ser um caça-níquel ou algo do tipo. É um filme muito bonito e com coração.