Presidente deve trocar ao menos 9 ministérios depois do Carnaval; PSD, PP, MDB, Podemos e União Brasil devem ampliar espaços
O PT deverá ceder espaços na Esplanada para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acomode partidos do Centrão na 2ª metade do seu governo. Os beneficiados devem ser PSD, PP, MDB, Podemos e União Brasil. O Planalto avalia que o PT é a única “gordura” que pode ser cortada no governo.
O partido comanda 13 dos 38 ministérios de Lula. O presidente, porém, ainda não definiu quais correligionários podem deixar a Esplanada.
O petista quer corrigir os rumos de algumas áreas, como a comunicação, e acomodar partidos que demonstram insatisfação, mas que podem ajudar tanto no Congresso quanto nas composições eleitorais para 2026.
As especulações sobre o assunto ganharam corpo desde o envio do pacote de corte de gastos proposto pelo Ministério da Fazenda ao Congresso, em 29 de novembro.
Partidos da base aliada demonstraram insatisfação pela pressão de terem que votar mudanças significativas em propostas impopulares em um prazo considerado exíguo. Também cobraram a liberação de emendas ao Orçamento.
O governo, então, passou a negociar com as legendas para aprovar o pacote ainda em dezembro. Um dos projetos foi aprovado pela Câmara na 3ª feira (17.dez.2024).
COBRANÇA POR MAIS ESPAÇO
O PSD e o União Brasil, siglas consideradas aliadas, levaram ao governo suas insatisfações com a representação que têm na Esplanada. Cobraram mais espaço nos ministérios em troca de apoio às medidas.
A principal sinalização se deu no início da tramitação do pacote de corte de gastos, quando os 2 partidos titubearam para aprovar o pedido de urgência. O PSD só mudou de posição depois de uma reunião de última hora com os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, em 3 de dezembro.
OLHO EM 2026
O Planalto também quer tentar atrair ou, ao menos neutralizar, partidos de centro em relação a uma possível candidatura de Lula à reeleição em 2026.
O União Brasil tem o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que já se declara pré-candidato à Presidência. O Republicanos tem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, cotado para a disputa presidencial, embora negue tal possibilidade e diga que concorrerá à reeleição no Estado.
MAS SÓ PÓS-CARNAVAL
A expectativa é de que Lula anuncie as trocas ministeriais somente depois do Carnaval, em março. Embora o novo comando do Congresso esteja praticamente acertado entre grande parte das legendas e o governo, o petista quer esperar a consolidação do cenário, com Hugo Motta (Republicanos-PB) na presidência da Câmara, e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) na do Senado.
Há ainda uma disputa pelo comando das principais comissões temáticas. Por isso, Lula deve esperar a movimentação decantar para definir as mudanças.
O petista ainda quer realizar uma reunião ministerial em dezembro para, segundo ele, fazer um balanço do ano e passar alguns recados. Seria um último adeus a parte de seus ministros. Por isso, o presidente insiste em viajar para Brasília nesta semana, enquanto ainda se recupera de uma cirurgia no crânio.
TROCA EM MINAS E ENERGIA
Lula deve promover uma mudança exclusivamente política no Ministério de Minas e Energia, comandado por Alexandre Silveira (PSD). O cargo de ministro deve ir para o MDB, com a indicação do senador Eduardo Braga (MDB-AM), ou para o Republicanos, com a indicação do deputado e presidente do partido, Marcos Pereira (SP). O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também é cogitado.
No início de setembro, Pereira abriu mão de disputar a presidência da Câmara e lançou o líder do partido na Casa, Hugo Motta (PB). O movimento colocou Lula na articulação legislativa e derrubou as candidaturas dos outros nomes que poderiam ganhar alguma musculatura até fevereiro: Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA).
A avaliação no Planalto é de que o próprio PSD, ciente da boa relação de Lula com Silveira, diz que o ministro não representa mais a bancada –principalmente a do Senado, que o indicou.
A estratégia seria forçar que o presidente “adotasse” o ministro e o colocasse em uma vaga de sua cota pessoal na Esplanada. Com isso, na prática, o PSD ganharia mais um ministério.
PARA ONDE VAI SILVEIRA
De toda forma, Silveira deve ser deslocado. Perdeu força com agentes externos ao governo: no mercado e no Congresso.
Durante seu tempo no ministério, ele se aproximou da primeira-dama, Janja Lula da Silva, e ganhou acesso direto ao petista.
O ministro gostaria de ocupar um espaço no Planalto, mas Lula enfrenta forte resistência a mexer com os ministros do PT: Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral).
Na bolsa de apostas, Silveira poderia ir para o lugar de Padilha ou para a SAJ (Secretaria de Assuntos Jurídicos da Casa Civil), um posto que daria acesso ao presidente diariamente.
ATENÇÃO COM O PSD
Outra mudança é cogitada para atender à bancada do PSD na Câmara. O grupo argumenta que está ligado só ao diminuto Ministério da Pesca, comandado pelo deputado licenciado André de Paula (PE). Cobra uma pasta mais robusta.
O governo tem dado especial atenção ao partido de Gilberto Kassab porque foi o que mais elegeu prefeitos em 2024 e tem integrantes influentes ligados a nomes da oposição. A começar pelo próprio Kassab, principal secretário de Tarcísio em São Paulo. Por outro lado, a legenda tem aliados de Lula, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o de Belo Horizonte, Fuad Noman.
O PSD comanda também o Ministério da Agricultura, com Carlos Fávaro –que é da cota da bancada do partido no Senado. Uma forma de atender à legenda seria dar uma pasta para Pacheco, já que ele deixará o comando do Senado a partir de fevereiro. Especula-se que ele poderia chefiar a Saúde ou a Justiça, mas não há indicações claras de que Lula pretende mexer nas duas áreas.
SAI PT, ENTRA PT
A substituição de Wellington Dias (PT) no Ministério do Desenvolvimento Social voltou a ser cogitada. Em 2023, quando Lula promoveu as primeiras mudanças em sua equipe, a substituição de Dias foi aventada, mas ele ficou no cargo. Responsável pelo Bolsa Família, tem sido criticado por não conseguir transformar as entregas do programa em apoio ao governo. O PT, porém, não abre mão da pasta, que comanda um dos maiores orçamentos do governo.
O nome da deputada e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, chegou a ser cotado, mas ela afirmou em 7 de dezembro que pretende ficar no comando da sigla até julho, quando o partido elege uma nova direção.
Pelas regras internas, ela só poderia ocupar um cargo de confiança no governo quando deixar a atual posição. Como Gleisi pretende disputar uma vaga ao Senado nas próximas eleições, teria que sair do ministério em abril de 2026.
Se deixar a cadeira, Dias volta ao Senado. Poderia assumir a liderança do Governo no Congresso ou no Senado. Estão hoje nessas posições os senadores Randolfe Rodrigues (PT-AP) e Jaques Wagner (PT-BA), respectivamente.
PIMENTA FORA DA SECOM
A saída do ministro Paulo Pimenta (PT) da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) é dada como certa até por petistas. Alguns dizem até que ele poderia ser o único a cair antes mesmo de fevereiro.
A mudança, neste caso, não envolve uma acomodação partidária, mas a busca por uma solução para um dos problemas que o governo enfrenta desde o início da 3ª gestão de Lula.
Em 6 de dezembro, o presidente fez duras críticas à comunicação e afirmou que a área é uma de suas preocupações para resolver a partir de 2025. Disse que há equívoco seu por não organizar entrevistas com jornalistas, cobrou a realização de uma licitação para mídia digital e prometeu “correções”.
“A gente não conseguiu sequer fazer com que a gente tivesse um estudo mais profundo sobre a questão digital e a gente sequer fez uma licitação para que a gente pudesse ter uma imprensa digitalizada altamente competitiva”, disse o petista.
A fala de Lula foi interpretada por alguns petistas como uma “demissão pública” de Pimenta. Foi o principal assunto entre os poucos caciques do partido que participaram do jantar de confraternização realizado pela legenda em Brasília, poucas horas depois da fala do presidente.
Em agosto, a Secom revogou a licitação de R$ 197.753.736 que havia selecionado 4 empresas de comunicação digital para assessoria e gerenciamento de redes sociais do governo federal. Leia a íntegra do documento (PDF – 604 kB).
A licitação tinha sido suspensa em julho pelo TCU (Tribunal de Contas da União), que identificou indícios de fraude, a partir de um suposto vazamento das propostas das licitantes.
O ministro relator Aroldo Cedraz acolheu a sugestão. Leia a íntegra (PDF – 255 kB). A área técnica da Corte de Contas alegou que um veículo de imprensa divulgou o resultado do certame de forma cifrada 1 dia antes da abertura dos envelopes.
O presidente quer o marqueteiro da sua campanha vitoriosa de 2022 no comando da área. Sidônio Palmeira, porém, resiste a aceitar um cargo no governo. Ele mora em Salvador (BA) e preferiria continuar colaborando pontualmente, mas passou a ser mais requisitado por Lula nos últimos meses.
O marqueteiro ajuda na definição da linguagem e do conteúdo de campanhas publicitárias e pronunciamentos. Colaborou com a produção do pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em 27 de novembro de 2024. No vídeo, Haddad anunciou o pacote de revisão de gastos.
Diante da especulação sobre a ida do marqueteiro para o Planalto, uma frase do economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, tem circulado entre políticos e jornalistas. No livro “As leis secretas da economia”, ele diz: “Princípio do Autoengano – toda vez que as autoridades se reúnem e concordam que o governo tem um problema de comunicação é porque os rumos da política econômica devem ser seriamente repensados”.
Lula gosta de Pimenta e pode mantê-lo no governo. Neste caso, ele poderia assumir a Secretaria-Geral da Presidência. Márcio Macêdo, atual titular, seria deslocado para a tesouraria do PT ou para a presidência da Fundação Perseu Abramo, comandada hoje por Paulo Okamotto, amigo de Lula.
Outra possível saída aventada para Pimenta seria assumir a liderança do Governo na Câmara, posto ocupado atualmente por José Guimarães (PT-CE).