Mario Rosa | O Centrão vai deixar a polarização e voltar pra pista

Grupo de pessoas em festa em São Paulo antes da pandemia

A consequência para a política é que o grupo não vai abandonar ninguém nem casar com ninguém, vai só ficar

A polarização que já teve traços fortes e hoje não passa de uma caricatura no Brasil –um cilindro de oxigênio para as vertentes opostas no discurso e cada vez mais vazias nas soluções reais para o país real– não poderia ter um retrato mais perfeito de sua falência prática do que na sucessão das duas Casas legislativas federais. 

Enquanto os pólos procuram se “contrastar”, o Congresso de 2025 se prepara para homologar os presidentes da Câmara e do Senado, todas as posições nas mesas diretoras, as comissões do Congresso, num modelo de democracia de fazer inveja a Putin, Xi Jinping e Fidel Castro.

Então a pergunta é: para onde está indo o chamado Centrão? O Centrão não é um aumentativo. O sufixo não é para demonstrar tamanho, grandeza ou força. O “ão” é uma coordenada geográfica. É um georeferenciamento. É para dizer que o Centrão não está meramente no “centro”. Está mais do que no centro do centro. Está no centro do centro do centro do epicentro. O Centrão é um lugar. 

E essa lembrança é especialmente importante agora, no meio do mandato do incumbente, quando o Centrão cria a obra de arte na política de eleger por “aclamação”, nas duas Casas do Legislativo, os seus 2 próximos dirigentes. Naquilo que muitos ainda definem como “polarização”, o Centrão já virou a página. Voltou pro seu lugar: o centro, de preferência do poder. 

Essa volta do Centrão a si mesmo tem algumas consequências nos próximos anos, se é que se pode fazer previsões precisas no Brasil. Claro, com exceção das previsões sobre o passado, mas até essas ultimamente estão costumando falhar, tamanha a imprevisibilidade do país no curto prazo (embora o relógio suíço seja, depois do Brasil, o mecanismo mais infalível inventado pelo homem. Mas isso é outra história…).

Voltando ao Centrão, depois de tanto ser chamado de “traíra” pela direita e “fisiológico” pela esquerda, pra que mesmo ficar a reboque de qualquer lado? Melhor ficar consigo mesmo não? 

Pra que apostar em campanhas presidenciais e na roleta russa de ganhar e ter de ceder espaços e de perder e comer o sal até se acomodar? Pra que fazer apostas antes e não ficar confortavelmente esperando o ungido para falar sobre o nobre tema da “governabilidade” no depois? Por que ficar contra o atual, por que ficar a favor dos que vão disputar?

A polarização, forte, atraiu o Centrão para um lado e para o outro do espectro porque a política estava magnética demais e pragmática de menos. E, aí, quem não era tão de lá nem de cá assim acabou de uma hora para outra parecendo ser o que nunca foi. Irmãos siameses ficaram separados. 

É como se tivessem construído um muro de Berlim no meio do Centrão e de uma hora para outra um irmão era comunista e outro capitalista. E pior: ainda tinham que se odiar um pouco porque a guerra fria da polarização assim exigia.

Mas o Muro de Berlim está caindo. De cansaço.

Não é melhor juntar forças e jogar parado? Fabricar o que o Centrão mais gosta: deputados, dezenas, centenas deles e, junto com todos, fundos eleitorais caudalosos? Pra que “desperdiçar” com candidaturas presidenciais que só vão servir para carimbar, gastar, desgastar, quando o importante mesmo é…a governabilidade! Deputados! 

O Centrão está mais Centrão do que nunca e a consequência para a política é que não vai abandonar ninguém, nem casar com ninguém também.

Centrão que é Centrão sempre esteve na pista. A polarização era um relacionamento tóxico. O Centrão vai dar um tempo. Vai só ficar. Como sempre fez, nos tempos mais felizes de sua vida. Um rolezinho. Básico.

Fonte: Poder 360

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