Impedir bets em aspectos específicos do jogo não acabará com a manipulação; solução passa pelo rigor das punições aos envolvidos
No início do mês, o futebol brasileiro acompanhou o desdobramento de um novo escândalo envolvendo a manipulação de resultados para o favorecimento de apostadores. Desta vez, com a suposta participação do atacante Bruno Henrique, do Flamengo, que teria forçado um cartão amarelo em um jogo do Campeonato Brasileiro de 2023 contra o Santos.
Dias depois, o senador Jorge Kajuru (PSB-GO) sugeriu a criação de proposta que impeça as casas de apostas de autorizar bets em cartões amarelos e vermelhos, pênaltis ou número de escanteios e laterais. Em entrevista ao congressista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concordou com a ideia, chamando-a de “decente” e dizendo ser muito mais difícil “manipular o resultado do jogo”.
Porém, proibir apostas em certos aspectos de uma partida não seria a opção mais viável para evitar manipulações. Com a popularização das bets, é possível apostar em quase tudo o que envolve um jogo e seria preciso transformar esse processo em algo parecido com a Loteca ou o finado Lotogol, ambas loterias da Caixa Econômica Federal: ganha A ou B e qual será o placar.
Um exemplo rápido de como a estratégia de bloqueio de cartões ou escanteios é falha: há casas em que é possível apostar se um atacante, de quem se espera gols, vai chutar na direção do gol. Ele não precisa nem marcar, só chutar na direção da baliza. O que impediria um atleta de negociar uma partida em branco? Olhando de fora, muitos acreditariam ter sido um caso só de um dia ruim ou má fase, quando, na verdade, o dinheiro trocou de mãos.
É claro que a opção por tornar as apostas esportivas algo quase imóvel e que só possibilita a chance de escolher vencedores e resultados é viável, mas talvez não para as casas de apostas. O número de apostadores diminuiria, assim como o fluxo de dinheiro, uma vez que parte dos ganhos das bets, e das derrotas dos apostadores, vem dos valores perdidos em tentativas de adivinhar mais do que placar, mas os protagonistas das partidas.
Assim, pensar em uma maior rigidez nas punições se torna uma alternativa mais viável para o problema. Uma vez que até mesmo jogadores da elite do futebol brasileiro, caso fique comprovada a participação de Bruno Henrique, podem sucumbir a esse tipo de manipulação, talvez a resposta tenha que ser dada no bolso e na carreira.
No episódio de 2023, quando o Ministério Público de Goiás apontou o envolvimento de dezenas de atletas em manipulações de jogos, muitos dos envolvidos tiveram os contratos rescindidos pelos clubes e não puderam atuar por longos períodos. Alef Manga, do Coritiba, voltou recentemente aos gramados, em 13 de outubro, depois de cumprir 1 ano de suspensão.
Agora, punir quem é “peixe pequeno” no mundo da bola é muito mais fácil do que ir para cima de jogadores consagrados. Por isso, a lei precisa ser rigorosa caso as suspeitas se confirmem. Se errou, é preciso pagar, seja Paulo Miranda, Gabriel Tota ou Bruno Henrique.
Suspensão de salário, rescisão de contrato e banimento dos gramados por meses ou anos seriam ações muito mais efetivas do que um cartão vermelho às casas de apostas. Quem cede ao erro por dinheiro, seja ele muito ou pouco, precisa pagar. E em dinheiro.