Incertezas na política fiscal pesam na elevação de 1 ponto percentual do juro-base, na última reunião do BC em 2024; autoridade monetária sinaliza altas de mesma magnitude nas duas próximas reuniões
O mercado financeiro projeta que a Selic termine 2025 em até 15%. A estimativa para a taxa básica de juros se dá depois da decisão do BC (Banco Central) de elevar a Selic em 1 p.p. (ponto percentual) e da indicação de que deve promover duas novas altas da mesma magnitude.
No comunicado (íntegra – PDF – 36 kB), o Copom (Comitê de Política Monetária) sinalizou “ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, caso haja a confirmação de “cenário mais adverso para a convergência da inflação”. A Selic terminou 2024 em 12,25%.
A taxa básica de juros guia as alíquotas de empréstimos e financiamentos. Nos investimentos, influencia o rendimento de aplicações.
O Poder360 procurou instituições financeiras e consultorias para ter acesso às projeções, que variam de 12,25% a 15% ao ano. Eis as estimativas:
O BTG Pactual projeta que a Selic termine 2025 em 14,75%. Em relatório (PDF – 3 MB), o banco que tem Mansueto Almeida como economista-chefe diz que há uma percepção no mercado financeiro de que “os riscos fiscais são maiores, com o crescimento mais rápido da dívida pública e a ausência de medidas estruturais que revertam essa tendência até o final da década”.
A Warren Investimentos também estima que o juro-base vá a 14,75% no próximo ano. Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da corretora, afirma que a parte fiscal pesa para uma acomodação da Selic.
“Uma trajetória mais moderada da taxa Selic dependeria principalmente de uma percepção mais benigna dos agentes econômicos quanto ao quadro fiscal, o que não parece provável, no momento, tendo em vista os acontecimentos recentes”, declara.
A Austin Rating espera que a Selic atinja 13,50% no fim de 2025. Economista-chefe da agência de classificação de risco, Alex Agostini projeta que a curva de juros atingirá o pico em maio de 2025, com 15,00%. Depois, deve passar a cair a partir de setembro.
O especialista avalia que o pacote fiscal já foi considerado na decisão do BC em elevar o juro-base em 1 p.p. “Vamos ter pressões inflacionárias geradas por essa perda de expectativas, perda de confiança e desancoragem das expectativas por parte dessa política fiscal ainda expansionista. Esse pacote de gasto anunciado foi bastante decepcionante”, afirma Agostini.
GOVERNO
O pacote do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca cortar gastos. Ao detalhar as medidas em 28 de novembro, o impacto estimado pela equipe econômica foi de R$ 71,9 bilhões para 2025 e 2026. A projeção para os próximos 6 anos é de R$ 327 bilhões.
Ao Poder360, a ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) disse na 5ª feira (12.dez) que a decisão do BC de elevar a Selic em 1 p.p se deve parcialmente ao pacote de gastos ainda não ter avançado no Congresso. Também afirmou que a aprovação do texto em 2024 tem o potencial de mudar a indicação do Copom de que deve promover duas novas altas da mesma magnitude.
“Nós temos margem para trabalhar, antes do próximo Copom, com a aprovação do ajuste ainda esse ano, das 3 medidas. Fazendo o dever de casa, a gente pode ter uma expectativa positiva de que aquilo que foi anunciado como projeção para o próximo Copom não venha acontecer no futuro”, declarou.
A ministra disse divergir de parte da equipe econômica quanto à possível causa da alta da taxa básica de juros. Declarou que o Brasil vai bem, com emprego e PIB (Produto Interno Bruto) crescendo, mas que a razão para impulsionar o câmbio e a taxa de juros não é “só o fator externo”. Sobre a sinalização do Copom, afirmou que olhará o “day after”.
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