Demanda deve crescer pelo menos 0,3% na comparação com setembro de 2023, quando consumo já foi elevado por causa das altas temperaturas
Com a previsão de uma nova onda de calor atingir o Brasil a partir de 2ª feira (2.set.2024), o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) projeta um aumento no consumo de energia em setembro. A estimativa é que a demanda (carga) no SIN (Sistema Interligado Nacional) fique na média de 77.432 MW (megawatts).
Isso significa um aumento de pelo menos 0,3% na comparação com setembro de 2023, quando o consumo já foi elevado (em média 77.200 MW) pelas altas temperaturas naquele mês. Em 25 e 26 de setembro do ano passado, o sistema chegou a registrar consumo superior a 96.000 MW em alguns momentos.
Conforme previsão da Climatempo, as temperaturas devem ultrapassar os 40 °C em várias regiões do Centro-Sul do país a partir de 2ª feira (2.set), se estendendo até a 2ª quinzena de setembro.
O Centro-Oeste será o mais afetado, especialmente o Mato Grosso. Estados como Rondônia, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo também enfrentarão calor intenso.
Essa nova onda pode ser uma das mais prolongadas dos últimos anos, com possibilidade de quebrar recordes de temperatura para o período. A umidade do ar pode cair abaixo de 12% em diversas cidades.
A previsão liga um alerta, diante do aumento do risco de problemas de saúde e de incêndios florestais.
Nos dias de maior calor, o consumo cresce com o maior uso de aparelhos como ar-condicionado, climatizadores e ventiladores. Essa demanda aumenta sobretudo no turno da tarde.
Demanda alta, oferta de energia baixa
Os reflexos do calorão no consumo de energia preocupam porque os reservatórios das hidrelétricas estão abaixo da média. O período seco tem sido mais grave que os últimos e tem afetado a vazão dos rios e os níveis das usinas. É uma combinação perigosa de demanda alta e oferta baixa.
Como mostrou o Poder360, desde fevereiro o ONS vinha alertando para a projeção de baixa vazão das usinas para o período seco neste ano. Neste mês, sugeriu ao governo que serão necessárias medidas extras para garantir o suprimento elétrico em horários de pico de demanda (como no final da tarde), como a expansão da geração térmica.
Apesar da expectativa de maior demanda em setembro, a principal preocupação do operador é com outubro e novembro, meses finais do período seco. Naturalmente, os reservatórios e as vazões estarão menores, enquanto as temperaturas começam a subir mais.
Atualmente, 4 das principais hidrelétricas com reservatórios do país estão com níveis na casa de 20%. Na usina de Furnas, uma das maiores do Brasil, o nível está em 51%. Já no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, onde estão 70% dos principais reservatórios do sistema elétrico, a média está em 56%.
Bandeira vermelha acionada
O agravamento da seca combinado com a previsão de alta demanda fez a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) acionar a bandeira vermelha nível 2 para setembro. É a 1ª vez em 3 anos que esse patamar será utilizado no país.
Isso significa que haverá cobrança adicional na conta de luz de R$ 7,87 a cada 100 KWh (quilowatt-hora) consumidos. É um extra significativo que pesará no bolso do consumidor em um mês de calor intenso. A medida também deve impactar o índice de inflação no próximo mês.
A última vez que a conta de luz teve bandeira vermelha foi em agosto de 2021, quando vigorou o nível 2. De setembro de 2021 a abril de 2022 existiu temporariamente uma bandeira de nível ainda mais elevado, a de escassez hídrica (também chamada de bandeira preta), que foi extinta.
Segundo a Aneel, as condições para geração de energia estão menos favoráveis por causa do agravamento do período seco. A bandeira vermelha foi acionada para setembro em razão da previsão de chuvas abaixo da média até o final do ano (em cerca de 50%) e pela expectativa de crescimento do consumo de energia no mesmo período.
“Esse cenário de escassez de chuvas, somado ao inverno com temperaturas superiores à média histórica do período, faz com que as termelétricas, com energia mais cara que hidrelétricas, passem a operar mais”, informou a Aneel em comunicado.