os brasileiros voluntários em Valência

Andrea Bonin têm organizado voluntários na comunidade brasileira na Espanha

Uma cena que se repetiu ao longo do dia na região leste da Espanha, centenas de voluntários caminharam quilômetros pelas estradas para ajudar nessa força-tarefa conjunta.

1 nov
2024
– 18h46

(atualizado às 22h33)




Andrea Bonin têm organizado voluntários na comunidade brasileira na Espanha

Foto: Crédito / BBC News Brasil

“Estamos cansados, mas ainda temos bastante ânimo para ajudar nesse terceiro dia”, diz a paulista Andrea Bonin.

Enquanto caminha por mais de uma hora com um grupo que carregava pás e rodos nas mãos, Bonin atende uma ligação da BBC News Brasil para contar como está a situação nos arredores de Valência, terceira maior cidade da Espanha.

Ela mora a poucos quilômetros de uma das áreas mais afetadas pela enchente histórica que fez grandes estragos na parte leste do país na última terça-feira.

Como boa parte das estradas continuam bloqueadas por conta de carros abandonados e várias pontes caíram, o acesso a esses locais só é possível a pé.

Através da sua conta do Instagram a brasileira conseguiu reunir um grupo de 30 pessoas que na manhã desta sexta-feira estava caminhando até as pequenas cidades mais afetadas da região para levar doações.

O grupo carregava itens de primeira necessidade, fraldas, água, lenços umedecidos, leite, alimentos que já preparados e produtos de higiene.

Uma cena que se repetiu ao longo do dia na região leste da Espanha, centenas de voluntários caminharam quilômetros pelas estradas para ajudar nessa força-tarefa conjunta.

A ajuda de voluntários tem sido tão grande que a Defesa Civil do país pediu para que as pessoas deixem de caminhar até as regiões afetadas para que o fluxo de pessoas não atrapalhe nos resgates.

Até agora o número de vítimas já passou de 205, nessa que já é considerada a pior catástrofe climática dos últimos 60 anos na Espanha.

Andrea, que mora em Valência há seis anos, conta que começou a ajudar quando recebeu o pedido de uma amiga brasileira que estava presa dentro da sua própria loja com seu bebê. “Ela ligou desesperada pedindo ajuda já com a água na cintura. Na hora entrei em contato com os serviços de emergência, mas eles disseram que não poderiam chegar até lá porque as pontes tinham caído e o acesso era difícil. Então eu e meu marido fomos para lá, conseguimos resgatá-la e a trouxemos para a nossa casa”, relembra.

Desde então, Andrea não parou de receber pedidos de outros brasileiros que estão precisando de ajuda ou querem encontrar familiares. Ela tenta chegar até a casa dessas pessoas para comprovar que estão bem. “A maioria dos pedidos que recebo é de brasileiros, já que tudo o que posto nas redes sociais é em português”, explica.



A enchente foi resultado do fenômeno Dana, que causou devastação na Espanha

A enchente foi resultado do fenômeno Dana, que causou devastação na Espanha

Foto: EPA-EFE / BBC News Brasil

Desabastecimento

Como algumas estradas seguem bloqueadas, caminhões não estão conseguindo abastecer o comércio dessa região. Andrea conta que faltam produtos e alimentos nos supermercados, até mesmo na capital Valência que não foi afetada.

“Não tem mais nada nas prateleiras porque as pessoas começam a se desesperar e compram o que não precisam por medo de ficarem sem, então acabam pegando mais do que é necessário e faltam produtos para quem realmente está precisando neste momento”, desabafa.

A voluntária não consegue calcular o número de pessoas que já conseguiu ajudar até agora. “A maioria das pessoas que a gente tem socorrido são brasileiras. Conheço várias amigas que perderam loja, carros e até mesmo as suas casas”, conta.

Durante a forte tempestade, em poucas horas caiu o equivalente a um ano de chuva. Três dias já passaram do início da tragédia e alguns lugares seguem sem água potável e algumas casas continuam sem energia elétrica. O governo da região de Valência anunciou que vai liberar nos próximos dias dinheiro para que as vítimas possam comprar móveis e reparar sus casas. “O governo está fazendo a sua parte, mas se não fosse pela população que está aqui com a mão na massa a situação seria bem pior”, diz a brasileira.

Desaparecidos

A polícia espanhola segue fazendo buscas com drones e helicópteros nas áreas mais afetadas. Militares também foram enviados para a ajudar na região. Dezenas de corpos já foram retirados de dentro dos carros. Na hora da tempestade as pessoas quiseram salvar seus veículos e acabaram ficando presas dentro das garagens.

Até agora o governo não divulgou um número oficial de desaparecidos, mas calcula-se que esse número seja grande.

“A gente que está aqui desde o primeiro dia sabe que o número de vítimas vai aumentar ainda mais. Tem lugares que continuam inacessíveis, muito barro, muita gente incomunicável. É muito grande esta catástrofe, maior do que muita gente pode imaginar”, se emociona ao contar.

Andrea diz que o plano é continuar atendendo as chamadas que forem chegando e ajudar a população a retirar o barro das casas.

“Estou em estado de choque, estou me movendo para fazer o que tem que ser feito e ainda não parei realmente para ver como estou. A gente está para o que der e vier. Cada dia é um cenário, cada dia é uma história”, diz.

Na Espanha a população segue doando alimentos e roupas em várias cidades. Em Valência um dos pontos de recolhida é o estádio de futebol, o Mestalla. Várias partidas de futebol, entre elas a do Real Madrid contra o Valência, que deveriam ser disputadas neste fim de semana, foram adiadas por causa das inundações.

Fonte: Terra

Compartilhar nas Redes Sociais

Notícias Relacionadas

Categorias

Redes Sociais