Empresa anunciou que não venderá carne de países do Mercosul; Fávaro disse que ação parece pretexto para que a França não assine acordo do bloco com a União Europeia
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse nesta 4ª feira (20.nov.2024) que a decisão do Carrefour de não vender mais carne produzida nos países do Mercosul “parece uma ação orquestrada de companhias francesas” para pressionar o governo da França a não assinar o acordo entre o bloco sul-americano e a União Europeia.
“Me parece uma ação orquestrada de companhias francesas. Não pode achar que é coincidência. Há 15 dias atrás, foi a Danone que fez. E agora o Carrefour. Apontando de forma inverídica as condições de produção brasileiras, de forma a ferir a soberania brasileira e afetando nossa produção que é sustentável. Me parece que estão querendo arrumar algum pretexto para que a França não assine e continue com posição contrária à finalização do acordo Mercosul-União Europeia”, disse.
O ministro afirmou estar indignado com a decisão da rede de supermercados francesa. “Era mais bonito e legítimo só manter a posição contra, mas não precisava ficar procurando pretexto naquilo que não existe na produção sustentável e exemplar brasileira. Eu seria o último a apontar qualquer defeito na produção francesa, mas fico indignado quando eles querem fazer isso com o Brasil”, declarou.
O presidente mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, publicou nesta 4ª feira (20.nov.) uma mensagem em sua conta oficial no Instagram um comunicado em que diz que a empresa não vai mais vender em suas lojas carne produzida pelo Mercosul. O bloco é formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. São países associados Bolívia, Chile, Colômbia, Peru e Equador.
Na nota, endereçada a Arnaud Rosseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França, Bompard diz que a decisão do Carrefour se dá em “solidariedade ao mundo agrícola”.
“Por toda a França a gente entende a raiva dos agricultores em face ao projeto de acordo de livre comércio e à invasão no mercado francês de uma produção de carne que não respeita suas exigências e suas normas. Em resposta a essa inquietude, o Carrefour quer fazer um front em comum com o mundo agrícola, e a partir de hoje engajar em não comercializar nenhuma carne que venha do Mercosul”, diz o texto.
O empresário diz ainda querer “inspirar outros atores da cadeia agroalimentar” francesa e “impulsionar um movimento maior de solidariedade”. Ele promete ainda manter os preços e a oferta do produto em suas lojas.
Em nota divulgada no fim da tarde, o Ministério da Agricultura rechaçou a declaração de Bompard e reiterou a “qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais”. (Leia a íntegra ao final do texto.)
Nesta semana, agricultores franceses têm feito protestos contra a finalização do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que criaria uma zona de livre-comércio entre as duas regiões. O acordo começou a ser discutido em 1999.
Leia a íntegra da nota divulgada pelo Ministério da Agricultura:
“O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) reitera a qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais.
“Diante disso, rechaça as declarações do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, quanto às carnes produzidas pelos países do Mercosul.
“No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, mantendo relações comerciais com aproximadamente 160 países, atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive para a União Europeia que compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos.
“Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor. Apresentou à União Europeia propostas de modelos eletrônicos que contemplam as etapas iniciais do Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), demonstrando compromisso com uma produção rastreável e transparente, sendo que os modelos privados de rastreabilidade são amplamente reconhecidos e aprovados pelos mercados europeus.
“O Mapa lamenta tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações.
“O posicionamento do Mapa é de não acreditar em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formalização do Acordo Mercosul – União Europeia, debatido na reunião de cúpula do G20 nesta semana. O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros.
“Mais uma vez, o Mapa reitera o compromisso da agropecuária brasileira com a qualidade, sanidade e sustentabilidade dos alimentos produzidos no Brasil para contribuir com a segurança alimentar e nutricional de todo o mundo.”