Ano já é considerado o mais quente já registrado pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM)
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Redação Terra
“A catástrofe climática está destruindo a saúde pública, ampliando a desigualdade social, ferindo o desenvolvimento sustentável e abalando as estruturas da paz”: na abertura da COP29, o secretário-geral da ONU António Guterres deu tom à crise proporcionada pelas mudanças climáticas ao redor do planeta.
Inúmeros eventos climáticos extremos ocorridos em 2024 fizeram com que a Organização Mundial de Meteorologia (OMM) e especialistas mais uma vez acendessem um ‘alerta vermelho’ para as consequências do desequilíbrio ambiental. O ano, inclusive, já é considerado o mais quente já registrado pela OMM.
Entre os registros, o planeta sofreu com ondas de calor cada vez mais intensas, enchentes em diferentes continentes, incêndios florestais, perdas significativas de áreas de plantio — o que intensificou a já grave crise alimentar na África –, e tempestades avassaladoras, que causaram bilhões de dólares em prejuízos, segundo a organização.
No relatório anual da OMM sobre as mudanças climáticas, o último apresentado durante a Conferência do Clima da ONU em Baku, no Azerbaijão, em novembro passado, a organização ressalta o aumento drástico nas médias de temperatura entre os impactos ambientais negativos. Veja os destaques:
- A emissão de gases de efeito estufa alcançou níveis recordes em 2023. Dados monitorados em tempo real indicam que a emissão aumentou ainda mais em 2024;
- A temperatura média do ar na superfície do planeta, amplificada pelo El Niño entre janeiro e setembro de 2024, esteve 1.54ºC acima da média pré-Industrial, limite previsto no Acordo de Paris;
- A extensão do gelo marinho no Ártico e na Antártida ficou abaixo da média em 2024. Em 2023, geleiras ao redor do mundo perderam água equivalente a cinco vezes o volume do Mar Morto.
Ao Terra, o climatologista Rodolfo Bonafim cita que o planeta vive uma ‘eclosão’ de eventos climáticos extremos que já ocorriam, mas em menor recorrência: “Frequência é a palavra-chave, esses fenômenos severos aumentaram muito em quantidade nas últimas décadas e a tendência é uma frequência cada vez maior em um mundo com atmosfera e mares mais aquecidos”.
Os fenômenos também são conectados pelo desequilíbrio ambiental. Por exemplo, a irregularidade das correntes de vento responsáveis pelas chuvas na Amazônia, que enfrenta seca e recordes negativos de volume de água, provocou chuvas inesperadas na região da Faixa do Sahel, ao sul do Deserto do Saara. O evento destruiu mais de 300 mil hectares de áreas de plantio em Mali e Nigéria em setembro.
No mesmo período, o desequilíbrio dos ventos também alimentou a temporada de tempestadres ao sul dos Estados Unidos, o que favoreceu a formação e passagem do Furacão Milton na Flórida no começo de outubro.
“Do ponto de vista meteorológico, esse desequilíbrio fez com que a chuva que deveria chegar à Amazônia, formar os rios aéreos e levar umidade ao Centro-Oeste, a São Paulo, não chegasse. Isso somado às queimadas provoca um cenário de destruição que atinge nossos biomas, como o Cerrado, por exemplo”, cita o climatologista.
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Brasil tomado pela estiagem
O relatório mais recente da OMM sobre as condições dos recursos hídricos globais aponta 2023 — os dados de 2024 ainda não foram compilados — como o ano mais seco e com rio em menores níveis nas últimas três décadas, coincidindo com a alta nas temperaturas ao redor do mundo.
Segundo a organização, os últimos cinco anos também foram atingidos pelos menores percentuais de áreas com rios em condições normais, enquanto reservatórios naturais seguem um caminho parecido, reduzindo a disponibilidade de água para comunidades e ecossistemas.
Na região Norte do País, a estiagem foi um dos fatores que elevou o número de incêndios florestais na Floresta Amazônica. No Pará, sede da COP30 em 2025, foram registrados 57.551 focos de incêndio entre janeiro e dezembro deste ano, com 6,97 milhões de hectares queimados nos 11 primeiros meses deste ano, segundo relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os prejuízos financeiros provocados pela seca superam a ordem de bilhões de reais. A baixa dos rios desde 2023 fez com que as empresas de eletrônicos da Zona Franca de Manaus, por exemplo, anunciassem gastos extras de R$ 1,4 bilhão.
Na agricultura, produtores sofreram com o desabastecimento de produtos, tanto pela quebra de safras quanto pelas perdas de alimentos. A baixa nos rios também fez afetou a produção de energia no País, fazendo com que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) anunciasse o reforço com usinas termoelétricas, refletindo no aumento das contas de energia no Brasil.
Para Celeste Saulo, secretária-geral da ONU, a estiagem não só no Brasil mas, no mundo como um todo é uma ‘prelúdio’ do futuro no planeta.
“As chuvas recordes e enchentes, ciclones tropicais de rápida formação, calor letal, secas duradouras e incêndios florestais devastadores que temos visto em diferentes partes do mundo, neste ano, infelizmente são nossa realidade e um prelúdio de nosso futuro”, declarou.