Juan Carlos Delpino Boscán apresentou um conjunto de críticas que incluem a suspensão de auditorias e outras irregularidades observadas ao longo do processo eleitoral
Quase um mês após a eleição presidencial da Venezuela, Juan Carlos Delpino Boscán, reitor do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e representante da oposição, levantou dúvidas nesta segunda-feira (26), sobre a transparência do pleito ocorrido no dia 28 de julho, que resultou na vitória de Nicolás Maduro.
Boscán admitiu que não esteve presente na Sala de Totalização dos votos do CNE, alegando falta de evidências para validar o resultado. Ele apresentou um conjunto de críticas que incluem a suspensão de auditorias e outras irregularidades observadas ao longo do processo eleitoral.
Oposição desconfia da transparência no CNE
Em um comunicado divulgado nas redes sociais, Juan Carlos Delpino Boscán relatou várias inconformidades que observou durante o dia da eleição. Segundo ele, houve descredenciamento de testemunhas da oposição e falhas na transmissão dos dados via código QR ao centro de dados do CNE.
Ele também mencionou um suposto ataque cibernético que teria atrasado a totalização dos votos. Para ele, esses problemas foram suficientes para justificar sua decisão de não participar da Sala de Totalização e se abster do anúncio dos resultados, que declararam Maduro como vencedor com 80% das urnas apuradas.
Juan Carlos Delpino Boscán afirmou que até as 17h do dia da votação, o processo transcorria sem maiores problemas. No entanto, a partir desse horário, começaram a surgir relatos de despejo de testemunhas da oposição. A oposição, mesmo com dificuldades, conseguiu reunir cerca de 83% das atas das urnas. Contudo, Boscán ressaltou uma interrupção na transmissão dos dados, o que gerou uma demora não explicada na divulgação dos resultados.
Auditorias suspensas
O reitor do CNE criticou a decisão de não publicar, conforme a tradição, os resultados de cada mesa eleitoral dentro de 48 horas. Pelo contrário, optou-se por esperar o prazo máximo de 30 dias, previsto no artigo 125 da Lei Orgânica dos Processos Eleitorais da Venezuela.
De acordo com Juan Delpino, a demora na publicação desses dados causou a suspensão de três auditorias previstas para depois do dia 28 de julho, “afetando a cadeia de confiança das auditorias e gerando incertezas”.
Crise eleitoral na Venezuela
A ausência de Juan Carlos Delpino Boscán na perícia do Tribunal Supremo de Justiça (STJ) da Venezuela, que ratificou a reeleição de Maduro, também foi um ponto de discussão. Ele justificou que acredita na resolução dos conflitos dentro do próprio CNE, com a convocação de técnicos e peritos eleitorais para auditar as atas, garantindo total transparência.
Boscán criticou ainda a forma como a data da eleição foi escolhida, a exclusão de partidos, as restrições impostas aos observadores e a falta de reuniões dentro do CNE que prejudicaram o funcionamento efetivo do órgão. Para ele, “o CNE experimentou preocupante falta de reuniões da direção, o que impediu seu funcionamento efetivo. Manifestei minha inquietação sobre a tomada unilateral de decisões, sublinhando que o CNE é um corpo colegiado que requer a participação de todos os seus membros”,
O governo de Maduro acusa a oposição de tentar desestabilizar o país, enquanto a oposição alega que tem provas de vitória do candidato Edmundo González. A investigação do Ministério Público sobre a possível falsificação de atas continua.
El Poder Electoral en cumplimiento de la Constitución de la República Bolivariana de Venezuela y las leyes, acata la decisión del TSJ en torno al proceso electoral efectuado el pasado 28 de julio, y en el lapso de ley cumplirá con lo ordenado por la Sala Electoral del TSJ. pic.twitter.com/RnHnlB2MOE
— cneesvenezuela (@cneesvzla) August 26, 2024