No terceiro dia de operações israelenses no norte da Cisjordânia, os residentes acordam entre ruas destruídas, muros com marcas de balas e procissões fúnebres, em um território sufocado pela ocupação e a violência.
O Exército israelense se retirou na madrugada desta sexta-feira 30 do campo de refugiados de Nur Shams, perto de Tulkarem, e horas depois funcionários municipais começaram a limpar o local.
O campo foi um dos principais alvos da operação contra grupos armados palestinos lançada pelas forças israelenses na quarta-feira no norte da Cisjordânia, e que prossegue em Jenin nesta sexta-feira.
Antes de enviar soldados, o Exército israelense utilizou escavadeiras que deixaram buracos no asfalto e ruas cobertas de escombros, areia e poeira.
Técnicos, equipados com coletes vermelhos, tentam avaliar os danos.
Enquanto isso, Fuad Kanuh verifica repetidamente o estado de sua loja, localizada no térreo de sua casa, cuja fachada foi destruída e as paredes estão pretas devido à fuligem. Um foguete atingiu o local durante os confrontos e todas as garrafas de água que vendia explodiram.
Segundo acordos firmados na década de 1990 no marco de um processo de paz atualmente frágil, a segurança e a ordem pública da “zona A”, que reúne as principais cidades palestinas da Cisjordânia, são de responsabilidade unicamente da Autoridade Palestina. Esta região representa menos de 18% da Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967.
Mas o Exército israelense, que acusa a polícia palestina não agir contra grupos armados, se reserva o direito de intervir.
Em Nur Shams, que, como todos os campos de refugiados, está localizada na zona A, as incursões militares de Israel foram interrompidas. Mas duas foram realizadas só nesta semana.
“Qual a diferença entre Gaza e nós?”
“Qual a diferença entre Gaza e nós? Somos outra Gaza, principalmente nos campos de refugiados”, questiona Nayef Alaajmeh, observando a magnitude dos danos com descrença.
A violência na Cisjordânia se intensificou desde 7 de outubro, quando eclodiu uma guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, após um ataque do movimento islamista no território israelense.
Desde então, cerca de 640 palestinos foram mortos pelo Exército de Israel ou por colonos judeus, um número recorde desde o fim da Segunda Intifada em 2005, segundo a ONU.
Pelo menos 19 israelenses, incluindo soldados, foram mortos em ataques palestinos ou em operações militares durante o mesmo período, de acordo com dados oficiais de Israel.
Mas, ao contrário de Gaza, devastada pela ofensiva israelense, na Cisjordânia, onde três milhões de palestinos enfrentam a presença de meio milhão de colonos, não há oficialmente uma guerra.
Os campos, criados na década de 1950 para abrigar palestinos que foram forçados a abandonar suas casas após a criação do Estado de Israel em 1948, acabaram por se tornar verdadeiras cidades.
“Eles cometem massacres”
“O exército de ocupação destruiu as infraestruturas, as ruas, nossas propriedades, nossos veículos, até atacaram a mesquita”, conta Abu Mohamed, membro de um grupo armado do campo de Al Faraa, cerca de 30 quilômetros a leste de Nur Shams.
Mohamed Mansur, que pertence ao Comitê Central do Partido do Povo (comunista), insiste que o Exército israelense está redobrando a pressão sobre os moradores dos campos de refugiados.
“Eles cometem massacres, bombardeiam, queimam, para pressionar a resistência. Queriam que a rua se voltasse contra a resistência, mas não conseguem”, afirma.
Ambos assistem ao funeral de quatro palestinos mortos na quarta-feira, cujos corpos, antes de serem enterrados, foram transportados em procissão pelas ruas do campo.
A mãe de um dos quatro mortos, um “terrorista armado” segundo as forças israelenses, beija o rosto do filho pela última vez.
Mais adiante, os que lideravam o cortejo vão embora ao som de tiros disparados para o alto por um grupo de jovens armados com espingardas automáticas.